Da Folha de S.Paulo - CatiaSeabra, Graciliano Rocha e Flávia Foreque
Documentos
obtidos na Operação Lava Jato trouxeram à tona a relação do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com executivos das maiores
empreiteiras do país. Chamado de "Brahma" pelos diretores da OAS, Lula
defendia, em viagens patrocinadas por empresários, seus interesses no
exterior. Em junho de 2013, num seminário em Lima, Lula dirigiu-se ao
presidente do Peru, Ollanta Humala, sugerindo aliança com o
empresariado.
À
frente de uma delegação de 400 executivos, Lula afirmou que "não se
deve ter vergonha" se há interesse financeiro. Porque "todo mundo que é
empresário precisa ganhar dinheiro". Do Peru, a delegação -- com
executivos da OAS, Camargo Corrêa, Odebrecht e Andrade Gutierrez, além
de empresas do porte da Embraer e Eletrobras -- viajou à Colômbia e ao
Equador.
Cinco
meses depois, Lula fez nova viagem sob patrocínio empresarial.
Conversas por mensagens de texto capturadas em celulares de executivos
da OAS indicam que a empreiteira não só deixou um avião à disposição do
ex-presidente para que viajasse ao Chile, em novembro de 2013, como
ajudou a definir sua agenda em Santiago.
Numa
conversa, o então presidente da OAS, Léo Pinheiro, referia-se a Lula
pelo apelido de "Brahma" e discutia o roteiro com o executivo da
empreiteira Cesar Uzeda.
"A
agenda nem de longe produz os efeitos das anteriores do governo do
Brahma, no entanto acho que ajuda a lubrificar as relações. (A senhora
[Dilma] não leva jeito, discurso fraco, confuso e desarticulado, falta
carisma)", escreveu Uzeda.
Pinheiro
responde: "O Brahma quer fazer a palestra dia 24/25 ou 26/11 em
Santiago. Seria uma mesa redonda para 20 a 30 pessoas. Quem poderíamos
convidar e onde?"
As
mensagens indicam que a agenda de Lula no Chile foi fechada com Clara
Ant, ex-assessora da Presidência e diretora do Instituto Lula. No dia 25
de novembro, véspera da viagem, Uzeda sugere "checar com Paulo Okamotto
se é conveniente irmos no mesmo avião".
Em
viagem à Guiné Equatorial em 2011, como representante do governo Dilma,
Lula colocou entre os integrantes de sua delegação oficial Alexandrino
Alencar, executivo da Odebrecht preso na sexta (19). O caso foi revelado
pelaFolha em 2013.