A
construção de uma Unidade de Pronto-atendimento Especialidades (UPAe)
deve reforçar a rede de saúde pública em Petrolina, quando estiver em
funcionamento. A obra, porém, virou motivo de transtornos para 36
famílias de agricultores familiares que trabalhavam na horta comunitária
do Centro Social Urbano (CSU).
Localizada na Avenida Honorato Viana, a
horta era uma das mais conhecidas da cidade e foi toda estruturada pela
antiga Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) –
atualmente Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA) – há mais de 30
anos. Mas como fica em uma área do governo do estado, foi relocada para a
construção da UPAe, há cerca de dois anos.
E foi a partir de então que a celeuma
começou. O presidente da Associação da Horta Comunitária do CSU,
Francisco Gomes Viana, o ‘França’, que está há 23 anos no local,
justifica que o projeto apresentado por representantes do Governo de
Pernambuco previa uma nova horta com infraestrutura mais moderna. Ele
também informou que cada família seria indenizada pelo estado enquanto a
nova horta – situada por trás da UPAe – fosse construída. A indenização
teria valor equivalente àquele tirado pelas famílias no antigo espaço.
Mas França alega que o acordo não foi cumprido na totalidade. “Eles
(governo) foram pagando no valor combinado até sete subsídios (parcelas
mensais). Depois parou tudo, e de lá para cá já vai fazer quase um ano.
Estamos sem receber nada, e sem a nossa horta. Eles falam que já
entregaram a horta e o que tinham de pagar, já pagaram”, ressaltou.
Outro agricultor, José Avelino Ferreira, lamenta o mato que invade o
local. Diz também que a maioria das famílias “está passando necessidades e se sentindo abandonadas”.
Contestação
Outro ponto questionado pelo grupo é o
fato de a nova horta estar localizada tão perto de uma unidade médica.
Segundo os agricultores, a justiça teria, inclusive, embargado a obra
por conta desse detalhe. Procurado pelo Blog, o gestor do IPA em
Petrolina, João Batista, refuta todas as críticas.
Ele admite ter havido atrasos na entrega da nova horta, mas o governo do estado não deixou de cumprir o acordo. “Eles deveriam receber quatro parcelas, mas receberam sete”, ressaltou João Batista, acrescentando que o estado indenizou “um a um”
cada agricultor em parcelas em torno de R$ 3 mil. O gestor disse ainda
que a nova horta foi entregue toda automatizada, com sistema de
micro-aspersão, e que as famílias ainda teriam a água e a energia
bancadas pelo estado.
Ele também se isenta pelo mato que hoje invade o espaço. “Só estava faltando, para eles, plantarem e ganharem seu dinheiro”, informou, sugerindo que os agricultores “se acomodaram”
em receber o subsídio. João Batista também não descartou a hipótese de o
governo procurar outras pessoas para tomarem conta da nova horta, já
que a área pertence ao estado. Quanto à questão judicial, o gestor
garante que um estudo foi feito pela Secretaria Estadual de Saúde na
área, o qual descartou qualquer risco de contaminação nos produtos a
serem cultivados na horta pelo lixo hospitalar da UPAe. “Isso não existe. Apresentamos um relatório no Recife (sobre o assunto), e o promotor disse até que ia arquivar a denúncia”, completou