O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, vai pedir a
revogação da imunidade do empresário Joesley Batista e dos demais
executivos do Grupo J&F flagrados em áudios divulgados na
segunda-feira passada. Joesley tinha obtido o perdão judicial após
assinar acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República
em abril. A decisão de Janot pode abrir brecha para que o empresário e
os demais executivos sejam alvo de medidas cautelares e até de um pedido
de prisão. Ontem, o procurador-geral passou o dia monitorando, a
distância, o depoimento de Joesley e dos executivos da J&F Ricardo
Saud e Francisco de Assis. De acordo com a Procuradoria, os três são
suspeitos de ocultar informações no processo de colaboração. Em gravação
entregue pela própria empresa aos investigadores no dia 31 de agosto,
Joesley e Saud falam de suposta influência do ex-procurador Marcelo
Miller na negociação da delação e citam os nomes de Janot, de outros
procuradores e de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Quem
esteve com Janot nos últimos dia afirma que o procurador-geral já está
decidido a revogar o benefício dado ao empresário e seus funcionários em
razão da gravação entregue pela própria empresa. O veredicto final
sobre as consequências adotadas por Janot deve sair hoje. Ontem, os três
executivos foram ouvidos na sede da Procuradoria, em Brasília (mais
informações nesta página). Hoje, Miller será ouvido no Rio. Ao abrir o
processo de revisão da delação do Grupo J&F na segunda-feira, um dia
depois de sua equipe ter identificado a conversa, Janot anunciou que os
prazos para a realização de diligências se encerravam hoje. Se o perdão
judicial for revogado, Joesley e os demais executivos flagrados nos
áudios poderão ser denunciados à Justiça. Desde que as conversas vieram a
público, aumentou a pressão política para que o empresário e os demais
executivos sejam presos. Ontem, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), disse esperar uma decisão "dura" por parte da
Procuradoria-Geral da República. "Não tenho dúvida nenhuma de que, nesse
caso específico, vai tomar decisão dura como tomou em outros casos",
afirmou. A delação firmada entre Procuradoria e executivos da J&F
prevê perda parcial ou total dos benefícios caso seja comprovado o
rompimento do acordo. Uma das saídas para os executivos é tentar
negociar um outro benefício, mas, de acordo com pessoas próximas, Janot
não tem se mostrado disposto a dar mais uma chance a Joesley. O
procurador-geral da República tem dito que está extremamente irritado
com o empresário e seus executivos. Revisão. O procedimento de revisão
da delação é conduzido pela subprocuradora Cláudia Sampaio Marques. Para
ouvir ontem os delatores, ela chamou outros três colegas, entre eles a
procuradora Maria Clara Noleto. Foi Maria Clara quem encontrou, no
domingo de manhã, a conversa suspeita em meio ao material entregue por
Joesley. A estratégia na Procuradoria foi de colocar procuradores que
não lidaram com os executivos da JBS no curso do processo de delação
justamente para tirar os delatores da zona de conforto. Janot acompanhou
a distância os trabalhos. Há expectativa de que o procurador-geral
encaminhe sua decisão ao ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal
Federal, a sua decisão. Em nota, a assessoria da J&F informou que
Joesley Batista, Ricardo Saud e Francisco de Assis estão à disposição
para cooperar com a Justiça e que não é possível fornecer detalhes do
depoimento "em razão de sigilo".