Janot, que deixa a PGR mês que vem, pode transformar denúncias contra Temer em uma única peça
Procurador-Geral da República deve apresentar nova denúncia contra presidente
Jornal do Brasil
Após
a vitória do presidente Michel Temer na Câmara de Deputados, na última
quarta-feira (2), com a rejeição da denúncia de corrupção passiva,
cresce a expectativa pelos próximos passos do procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, que prepara nova denúncia contra o presidente.
No mês passado, Janot afirmou que seguiria no mesmo ritmo de trabalho
até o fim do seu mandato, mês que vem. E avisou: "Enquanto houver bambu,
lá vai flecha", numa alusão a novas denúncias. Com as delações do
ex-deputado Eduardo Cunha e do doleiro Lúcio Funaro em estágio
adiantado, no mesmo passo em que o tempo está se esgotando para Janot,
aumentam as possibilidades de mais acusações.
Na
última sexta-feira (4), veio à tona a notícia de que relatório da
Polícia Federal continha a transcrição de um diálogo de 2012 em que os
então deputados federais Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Henrique Eduardo
Alves (PMDB-RN) tratariam do recebimento de propina do empresário
Joesley Batista, da JBS. Na troca de mensagens, é citado o nome de
Michel Temer, então vice-presidente, como envolvido na negociação. O
relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, ministro Edson Fachin,
já recebeu o relatório.
A
conversa cita "três convites" do dono da JBS que seriam repassados aos
peemedebistas. Para a PF, os "três convites" pode ser um código para
propina. Nela, Henrique Alves, então deputado, informa Cunha sobre o
resultado de uma conversa com "Joes", identificado pela PF como Joesley.
"Joes aqui. Saindo. Confirme dos 3 convites, 1RN 2 SP! Disse a ele!",
escreveu Alves na mensagem.
Em resposta às mensagens de celular de Alves, Cunha reage:
"Ou seja ele vai tirar o de São Paulo para dar a vc? Isso vai dar merda com o Michel. E ele não estaria dando nada a mais".
No
relatório de 186 páginas que a PF anexou na semana passada a uma das
ações cautelares que tramitam no Supremo Tribunal Federal, há a suspeita
de propina durante as campanhas eleitorais:
“A
utilização do termo ‘convites' pode ser uma tentativa de mascarar uma
atividade de remessa financeira ilegal, já que, caso fosse um
procedimento que obedecesse estritamente as normas legais, não haveria o
porquê do uso deste termo (...) A hipótese seria que três repasses
originados do acerto com o grupo JBS fossem relacionados a MICHEL TEMER,
lembrando que era um momento eleitoral, porém houve a intervenção de
HENRIQUE ALVES para que 1 (um) fosse direcionado ao Rio Grande do Norte,
fato que poderia gerar alguma indisposição com MICHEL TEMER, segundo
EDUARDO CUNHA”.
No
dia seguinte, dia 23 de agosto de 2016, um novo diálogo entre Cunha e
Alves dá indícios, anda segundo os apontamentos do relatório da Polícia
Federal, de que os valores negociados podem ter relação com a liberação
de dinheiro público do fundo de investimentos da Caixa (FI-FGTS) para
Joesley Batista. Cunha envia a seguinte mensagem para Alves: "Vou
resolver com ele de qualquer forma porque tem o assunto de ontem dele
que foi aprovado”.
Em
mensagens recuperadas pela PF deste mesmo dia, aparece, desta vez,
Geddel Vieira Lima, ex-ministro de Temer e à época diretor na Caixa
Econômica. Geddel dá informações sobre a situação da holding J&F, de
Joesley Batista. “J e F: voto está pronto para pauta, porém surgiu
pendência junto ao FGTS. que segundo Dijur impede assinatura. Fala para
regularizar lá”, escreveu Geddel.
Para a PF, esse diálogo revela a conexão entre "Joes", FGTS e os "convites" que seriam repasses de campanha.
Ainda
segundo o relatório, três dias depois o ex-presidente da Câmara alerta
Alves de que Joesley pode não cumprir o acordo sobre o Rio Grande do
Norte, domicílio eleitoral do ex-ministro do Turismo. Cunha sugere
contornar Temer. Alves responde: "o problema é dele com o Michel".
Henrique Eduardo Alves - Ok . Não esqueça conversa. E Joes?
Eduardo
Cunha - Vou resolver dentro de outra ótica, sem tocar em Michel. O cara
foi malandro e vc caiu e não vamos nos atritar por isso, ele vai
resolver e pronto, deixa para lá.
Henrique Eduardo Alves - Cai não. Me garantiu, concordei. De onde problema dele com Michel Ok