O
executivo Ricardo Saud, delator da J&F, fará um complemento de sua
delação premiada em que irá relatar nomes de deputados atribuídos a
valores que teriam recebido em dinheiro vivo para apoiar a eleição do
ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para a presidência da Câmara, em fevereiro de 2015.
Na
ocasião, Cunha foi eleito com 267 votos. Ele ficou à frente do
candidato apoiado pela então presidente Dilma Rousseff, Arlindo
Chinaglia (PT-SP), que teve 136 votos.
Segundo
pessoas ligadas à empresa, o próprio Saud, que na época atuava como
interlocutor e lobista da J&F no Congresso, teria sido o responsável
por fazer os repasses. Os pagamentos representam R$ 12 milhões dos
cerca de R$ 30 milhões desembolsados pelo grupo para dar suporte a
Cunha, conforme relatou Joesley Batista, sócio da empresa e também
delator.
Pessoas envolvidas nas tratativas afirmaram à Folha
que o lobista vai apresentar os nomes dos deputados, os valores pagos a
cada um, além de informações sobre o modo que as entregas foram feitas.
Em
depoimento, Joesley se limitou a dizer que o grupo atendeu ao pedido de
Cunha, que em 2014 solicitou R$ 30 milhões para se eleger presidente da
Câmara. "Dos levantamentos nossos, pelo que eu entendi, ele saiu
comprando um monte de deputado Brasil afora", disse.
O
empresário afirmou que o valor foi pago da seguinte maneira: R$ 5,6
milhões por meio de doação oficial ao PMDB e correligionários indicados
por Cunha, R$ 10,9 milhões por meio de pagamentos de notas frias em
setembro e outubro de 2014 e R$ 12 milhões em dinheiro.
Há
uma diferença de R$ 1,5 milhão entre a soma desses três valores (R$
28,5 milhões) e os R$ 30 milhões, ambos citados por Joesley, mas os
procuradores não questionaram o empresário sobre essa discrepância.
Em
nota, a J&F não explicou a diferença de valores. Disse que "os
colaboradores já apresentaram informações e documentos à
Procuradoria-Geral da República e continuam à disposição para cooperar
com a Justiça".
Em
seu depoimento, Joesley também disse aos investigadores que, se
quisessem saber detalhes teriam que falar com Saud, o responsável pelos
repasses. O assunto, no entanto, não foi explorado com o lobista nos
depoimentos que se tornaram públicos.
Integrantes
da J&F disseram à reportagem que Saud não explicou o fato
inicialmente porque não houve tempo, mas que se comprometeu a falar
sobre as entregas.
OUTROS DELATORES
No acordo de delação premiada
que negocia com a Procuradoria, o próprio Cunha, preso em Curitiba, se
comprometeu a detalhar como aconteceu o pagamento dos R$ 30 milhões da
J&F. Segundo a Folha apurou, o ex-presidente da
Câmara relatará que o dinheiro não chegou a ele, mas foi entregue
diretamente pela empresa aos políticos.
O assunto também faz parte do escopo do acordo de Lúcio Bolonha Funaro, ex-operador financeiro de Cunha preso em Brasília, que também está em tratativas com o Ministério Público Federal.