Música é a estética que mais desperta sensibilidade. O som, a
melodia, os acordes, a voz… Tudo coopera para aflorar emoções e memória
auditiva. Aos meus ouvidos, poucos artistas sonoros conseguiram tocar
tanto suas notas e letras ao meu coração, em várias fases dessa ainda
curta trajetória de vida, quanto Antônio Carlos Belchior. Mesmo nesses
poucos 33 anos de “sonho e de sangue e de América do Sul”. A música de
Belchior é singular. Da intelectualidade dos temas à leveza, quase
inocente, de um conformado e rebelde “rapaz latino americano”. A crítica
vestida em sua “Velha Roupa Colorida” ou nas vezes que idealizamos a
vida “Como nossos pais”, e depois experimentamos a realidade “A Palo
Seco”.
Carrego adolescente a identificação com a obra desse sobralense,
talvez porque – feito ele – também “eu me lembro muito bem do dia em que
eu cheguei” na cidade grande e tive que mostrar minha “Fotografia 3×4”,
depois de ter “os pés cansados e feridos de andar légua tirana”. Sou um
tanto meio Belchior, pouco afeito as teorias porque “amar e mudas as
coisas me interessam mais” e “e meu delírio é a experiência com coisas
reais”. Como ele, compreendo que “o amor é uma coisa mais profunda que
um encontro casual”. Tal qual o poeta do som, estou sempre disposto a me
reinventar e “viver as coisas novas/que também são boas”, sem ter medo
de recomeçar “Tudo outra vez”.
Vencido o “Medo de Avião”, cá ficamos nós – admiradores e fãs de seu
legado artístico – com sua voz, seus poemas, sua paixão “Brasileiramente
Linda”.Na platéia em que não estive, certamente, declamaria entre
“Galos, Noites e Quintais” por lembrar infância em que “era alegre como
um rio, um bicho, um bando de pardais”. Só poderia mesmo compreender e
entender o “meu som, e a minha fúria e essa pressa de viver” quem tem um
“ coração de vidro/como beijo de novela”. Um “Coração Selvagem”, como o
de Belchior.
* Jornalista, editor do portal MaisPB