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O
Jornal “Globo” assumiu a defesa do impeachment contra o governo Dilma
Rousseff. A publicação dos irmãos Marinho afirma que “pode-se criticar,
mas o não cumprimento da Lei de Orçamento está relacionado na
Constituição como passível de ser punido com impeachment”. Lembra, no
entanto, que o veredicto sobre as contas de Dilma Rousseff ainda não foi
dado pelo Congresso.
Leia abaixo:
Há razões técnicas
Dilma é acusada de cometer crimes previstos na Carta, mas não há certeza da cassação
Dilma é acusada de cometer crimes previstos na Carta, mas não há certeza da cassação
Aaceitação
do pedido de impeachment da presidente Dilma, representante de um bloco
político no poder há 13 anos, enraizado no movimento sindical, com
apoio de “organizações sociais” cevadas com dinheiro público durante
todo esse tempo, ela mesma criada pelo expresidente Lula, importante
líder popular, teria de gerar muita discussão e tensões políticas. Com
mais razão ainda porque o pedido de impeachment, encaminhado pelos
juristas Hélio Bicudo — fundador dissidente do PT —, Miguel Reale Jr. e
Janaína Paschoal, foi acolhido pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
além de adversário do PT, investigado pela Operação Lava-Jato, e dono
comprovado de contas na Suíça, com dinheiro de origem suspeita, não
declarado tanto quanto as contas.
Com
essa folha corrida e ainda sendo processado no Conselho de Ética da
Casa, por quebrar o decoro ao ter garantido perante a CPI da Petrobras
não possuir contas no exterior, Cunha aceitou o pedido de impeachment,
ato de evidente revanche contra PT e Dilma. Afinal, não teve do governo e
partido a ajuda que chegou a ser barganhada com ele.
Mas
nada disso desqualifica a aceitação do pedido de abertura do processo
de impedimento, como entendem ministros do STF. Importou naquele ato que
o presidente da Câmara agiu dentro de suas prerrogativas. O fato de o
posto estar sendo ocupado por Eduardo Cunha é desanimador, mas não torna
ilegal a abertura do processo. Não é golpe.
Há,
ainda, o debate sobre crimes de responsabilidade praticados por Dilma
no primeiro mandato e também em 2015, no início do segundo governo, por
atropelar preceitos da Lei de Responsabilidade Fiscal. Por exemplo,
emitir decretos para liberar gastos não previstos no Orçamento aprovado
pelo Congresso, assim como usar bancos federais para financiar despesas
do Tesouro.
Os
delitos foram mapeados pelo corpo técnico do Tribunal de Contas da
União. Com base em relatório sobre as infrações, as contas de 2014 foram
rejeitadas pelo TCU, veredicto ainda a ser deliberado pelo Congresso.
As ilegalidades cometidas este ano foram incluídas no pedido de
impeachment. A crônica das manipulações foi relatada em reportagem do
“Valor”, edição de sextafeira, baseada em documento de técnicos da
Secretaria do Tesouro, de alerta ao governo Dilma, ainda em 2013.
Pode-se
criticar, mas o não cumprimento da Lei de Orçamento está relacionado na
Constituição como passível de ser punido com impeachment. A Carta
estabelece que o presidente só pode ser processado por atos cometidos
durante o mandato. O dispositivo, porém, foi instituído antes de
estabelecida a reeleição. Portanto, a depender do magistrado, pode-se
entender que o segundo mandato é uma continuação do primeiro, parte de
um mesmo governo de oito anos. Existe, portanto, base técnica para o
pedido de impeachment. Isso não significa que esteja garantida a
condenação da presidente Dilma. Sabe-se, desde a cassação de Collor, que
o impedimento é muito condicionado pela conjuntura política.
