por Jamile Amine
Foto: Wilson Dias / Agência Brasil
Após o lançamento da série original da Netflix, “O Mecanismo”, dirigida pelo brasileiro José Padilha (clique aqui e saiba mais) – o mesmo de “Tropa de Elite”, a ex-presidente Dilma Rousseff fez duras críticas ao cineasta e à produção. Em uma publicação nas redes sociais, intitulada “O Mecanismo de José Padilha para assassinar reputações”, segundo ela, com o objetivo de “desmascarar mentiras”, a petista afirma que Padilha propaga “fake news”. “O país continua vivo, apesar dos ilusionistas, dos vendedores de ódio e dos golpistas de plantão. Agora, a narrativa pró-Golpe de 2016 ganha novas cores, numa visão distorcida da história, com tons típicos do fascismo latente no país”, diz Dilma, afirmando que na série que conta a história da Lava Jato, supostamente baseada em fatos reais, o cineasta “incorre na distorção da realidade e na propagação de mentiras de toda sorte” para atacar a ela e a Lula. Um dos pontos mais criticados é a conhecida fala do “grande acordo nassional”, dita por Romero Jucá, que na série é atribuída ao personagem que representa Lula. “Na série de TV, o cineasta ainda tem o desplante de usar as célebres palavras do senador Romero Jucá (PMDB-RR) sobre ‘estancar a sangria, na época do impeachment fraudulento, num esforço para evitar que as investigações chegassem até aos golpistas. Juca confessava ali o desejo de ‘um grande acordo nacional’. O estarrecedor é que o cineasta atribui tais declarações ao personagem que encarna o presidente Lula”, critica Dilma. “Reparem. Na vida real, Lula jamais deu tais declarações. O senador Romero Jucá, líder do golpe, afirmou isso numa conversa com o delator Sérgio Machado, que o gravou e a quem esclarecia sobre o caráter estratégico do meu impeachment”, acrescenta. “A série ‘O Mecanismo’, na Netflix, é mentirosa e dissimulada. O diretor inventa fatos. Não reproduz ‘fake news’. Ele próprio tornou-se um criador de notícias falsas”, dispara. “O cineasta trata o escândalo do Banestado, cujo doleiro-delator era Alberto Yousseff, numa linha de tempo alternativa. Ora, se a série é ‘baseada em fatos reais’, no mínimo é preciso se ater ao tempo em que os fatos ocorreram. O caso Banestado não começou em 2003, como está na série, mas em 1996, em pleno governo FHC”, contextualiza. Dilma diz ainda que “o diretor de cinema usa as mesmas tintas de parte da imprensa brasileira para praticar assassinato de reputações, vertendo mentiras na série de TV, algumas que nem mesmo parte da grande mídia nacional teve coragem de insinuar”. Reafirmando que, diferente do que é mostrado na série, o doleiro Youssef jamais participou de sua campanha ou esteve na sede de seu comitê. “A má fé do cineasta é gritante, ao ponto de cometer outra fantasia: a de que eu seria próxima de Paulo Roberto da Costa. Isso não é verdade. Eu nunca tive qualquer tipo de amizade com Paulo Roberto, exonerado da Petrobras no meu governo”. Além das críticas aos fatos contados fora do tempo cronológico, a ex-presidente insiste que Padilha mente ao não contar a história dentro do contexto histórico. “O cineasta não usa a liberdade artística para recriar um episódio da história nacional. Ele mente, distorce e falseia. Isso é mais do que desonestidade intelectual. É próprio de um pusilânime a serviço de uma versão que teme a verdade”, afirma Dilma, que compara a narrativa de “O Mecanismo” com eventos históricos relevantes. “É como se recriassem no cinema os últimos momentos da tragédia de John Kennedy, colocando o assassino, Lee Harvey Oswald, acusando a vítima. Ou Winston Churchill acertando com Adolf Hitler uma aliança para atacar os Estados Unidos. Ou Getúlio Vargas muito amigo de Carlos Lacerda, apoiando o golpe em 1954”. Dilma Rousseff afirma ainda que o cineasta faz ficção ao tratar da história do país, mas sem avisar a opinião pública. “Declara basear-se em fatos reais e com isso tenta dissimular o que está fazendo, ao inventar passagens e distorcer os fatos reais da história para emoldurar a realidade à sua maneira e ao seu bel prazer”, diz ela, afirmando, no entanto respeitar a liberdade de expressão e manifestação artística. “Há quem queira fazer ficção e tem todo o direito de fazê-lo. Mas é forçoso reconhecer que se trata de ficção. Caso contrário, o que se está fazendo não está baseado em fatos reais, mas em distorções reais, em ‘fake news’ inventadas”, conclui.