Juliana Sofia – Folha de S.Paulo
Sob o escudo da legalidade, o senador Aécio Neves deixa de dar explicações convincentes ao eleitor sobre o caso da rádio Arco Íris, revelado pela Folha nesta semana. Em uma operação familiar, o tucano vendeu as cotas que tinha da emissora, avaliadas em R$ 700 mil, por vultosos R$ 6,6 milhões.
A negociação envolveu, na origem, uma dívida com sua mãe, antiga proprietária; seis anos depois, a participação do parlamentar na rádio foi vendida por uma fortuna a outra sócia, curiosamente sua irmã, Andrea Neves. Na triangulação milionária, o débito do filho foi perdoado.
Todos os valores foram declarados de forma regular à Receita Federal e ficariam resguardados pelo sigilo fiscal não fosse a determinação do STF para quebrar a confidencialidade dos dados do senador em um inquérito em que ele é investigado. Nos documentos públicos —disponíveis na Junta Comercial de Minas Gerais—, o tucano não registrou, porém, os montantes informados ao fisco. O negócio da China foi resumido a modestos R$ 88 mil —ato que não é ilegal.
Aécio se desfez das cotas da Arco Íris seis meses antes de ser gravado, sem ter conhecimento, em um hotel em São Paulo pedindo ao empresário Joesley Batista (JBS) R$ 2 milhões para pagar sua defesa na Lava Jato.
O “Mineirinho”, como o parlamentar era conhecido pelos executivos da Odebrecht, foi citado nas delações da empreiteira por participar do esquema que favoreceu o grupo nas obras da Cidade Administrativa e da usina de Santo Antônio. Marcelo Odebrecht, herdeiro condenado do império, orientava seus executivos a serem generosos nas doações de campanha ao tucano por ter grande potencial e capital político.
Aos 51 milhões de brasileiros que lhe confiaram o voto, o senador tem muito a esclarecer —inclusive por que mantinha em casa um bloqueador proibido de celular. Os advogados de Aécio dizem que o equipamento foi um presente.