Na terça (26), o ministro Carlos Marun declarou
: "O governo espera daqueles governadores que têm recursos e
financiamentos a serem liberados uma reciprocidade no que tange a
questão da Previdência". Criticado no dia seguinte por governadores que
entenderam serem arbitrárias e inconstitucionais as ameaças contidas na
fala ministerial, o referido membro do gabinete voltou à carga: "A
reação (...) só se justifica pela intenção de buscar resultados
eleitorais exclusivamente para si".
Por
que Temer, em tese sem pretensões para 2018, mandaria Marun comprar
briga com chefes regionais em nome de uma reforma impopular no último
ano de mandato?
Quem teve a curiosidade de ler o artigo do deputado Jarbas Vasconcelos (MDB-PE) publicado pela Folha
na quinta (28) terá encontrado uma descrição tão intrigante quanto o
movimento de Marun. Figura histórica do antigo e novo MDB, Vasconcelos
acusa o senador Romero Jucá (MDB-RR), atual presidente da agremiação, de
agir "em Pernambuco para tomar de golpe a legenda". Mais adiante,
acrescenta: "No modus operandi dele, quem se contrapõe às suas ideias e
projetos vai ser alvo, como eu fui e estou sendo, de perseguição e
truculência".
O
que ocorre na sigla da acomodação e do jeitinho? Por que o velho
partido-ônibus agora obriga passageiros como Kátia Abreu (ex-PMDB-TO) a
descerem a toque de caixa (a senadora foi expulsa no mês passado)?
Arrisco
uma explicação. O deslocamento liderado por Temer entre 2015 e 2016,
quando o partido rompeu a aliança com o lulismo para assumir a vanguarda
da derrubada de Dilma, não era epidérmico, como às vezes pareceu. Os
políticos hoje no Planalto enxergaram uma brecha cujo preenchimento é
bem mais do que ocasional.
Trata-se
do espaço criado pelo conservadorismo que avançou na sociedade
brasileira. O acesso ao Executivo, via impeachment, deu ao grupo em
torno de Michel, como gostam de dizer os correligionários, a
possibilidade de realizar um programa que move importantes forças
nacionais. Contenção estrutural do gasto público, desmonte da CLT e
reforma da Previdência constituem medidas que alteram características
centrais da Constituição de 1988, como é o desejo de parcela expressiva
da classe dominante.
Os
emedebistas têm consciência do papel que estão jogando e não pretendem
entregar os louros conquistados de mão beijada para algum tucano da
vida. Só não sabem, ainda, como combinar o jogo com o eleitorado, que
tende a derrotá-los em eleições presidenciais. Por isso, o projeto de
semipresidencialismo, que circulou na semana passada, deve ser
acompanhado com todo cuidado. Ele pode ser a (péssima) saída para o
problema em que estão metidos os atuais donos do poder.