Uma
das vítimas da cleptocracia no Brasil é a semântica. Quando celebram a
prisão de Paulo Maluf como evidência de avanço institucional, você sabe
que está diante de uma crise de significado ou num país de cínicos.
Longe de simbolizar um avanço, a prisão tardia de Maluf representa o
triunfo da conivência do Brasil com o desmando e a corrupção. Maluf
ajuda a explicar como chegamos à Lava Jato.
Maluf
sempre foi um corrupto notório. Sua reputação estava tão associada à
malversação que seu nome desceu aos dicionários como sinônimo de roubar.
Nos tempos áureos, Maluf inocentava a classe política pelo contraste
—tinha-se a impressão de que ninguém malufava tanto quanto ele. A despeito de tudo isso, não faltaram votos para manter Maluf nas proximidades dos cofres.
Entre
o escândalo e a prisão de Maluf, decorreram duas décadas. Nesse
período, construiu-se a imensa área de manobra para a proliferação da
corrupção no Brasil. A tese do rouba, mas faz prevaleceu sobre o bom
senso. Deu origem a outras perversões: o rouba, mas investe no social; o
rouba, mas promove reformas econômicas… Hoje, a corrupção é tão
generalizada que o velho Maluf parece um amador.