Atrás de Huck candidato estão sábios do disfarce que já tentaram esse golpe
Elio Gaspari – Folha de S.Paulo
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Faltando um ano para a eleição presidencial, o Ibope diz que Lula tem 35% das preferências. Atrás dele, Jair Bolsonaro tem 13%.
Os demais no passam de um dígito.
Está
feita a confusão. Como em 1989, o primeiro turno poderá ser embolado.
Lula pode ser condenado na segunda instância e Bolsonaro pode bater com a
cabeça no teto da era paleolítica. Como em 1989, quando o governo de
José Sarney tinha uma impopularidade que se supunha inigualável (ninguém
imaginava que haveria um Michel Temer), há no ar o medo de Lula e, além
dele falta um nome.
Em 1989, era preciso botar um nome na rua e apareceu o do astro Silvio Santos. A busca por candidatos de fora da política era tamanha que no tucanato pensou-se no ator Lima Duarte na chapa de Mário Covas.
Silvio
Santos teve até jingle, "agora o povo está contente, o povo já tem em
quem votar", mas, impugnado, deixou a bola murchar e o andar de cima
descobriu que o candidato de seu sonhos era Fernando Collor. Deu no que
deu.
Em 2017, da mesma cartola de que quase saiu o homem do Baú da Felicidade tenta-se tirar o astro de TV Luciano Huck.
A ideia é simples: o povo está desencantado da política, não sabe
votar, e pode ir atrás de uma celebridade da telinha. Que tal Henrique Meirelles na vice?
Seria um bom tutor?
Huck
parece dispor de uma superassessoria da banca e da marquetagem que,
astutamente, não põe a cara na vitrine. Mencioná-los agora seria puro
sensacionalismo. Querem que a televisão lhes sirva de palanque. À
diferença de Silvio Santos, que era o dono da emissora, Huck sabe os
riscos profissionais que corre lançando-se na corredeira de uma campanha
política.
Um
truque parecido pode ser visto em algumas conversas para a eleição do
Rio de Janeiro. À falta de um nome, ainda há quem sonhe em atrair o
técnico Bernardinho,
campeão do vôlei. Viajando-se no tempo e no espaço, a derrocada da
máquina de Sérgio Cabral lembra o escândalo da prefeitura de Nova York
no final do século 19.
Lá,
o Poderoso Chefão morreu em cana. Sua máquina foi substituída por um
prefeito bilionário, saído dela, mas ele fez uma administração
consciente. O andar de cima de Nova York teve um bilionário para
disputar a eleição. A do Rio, que celebrou o gestor Cabral, nem isso.
Huck
e Bernardinho trabalham como mouros nos seus ofícios e neles foram bem
sucedidos. Podem vir a ser bons governantes, mas por enquanto essa é uma
esperança astrológica. Num momento em que os EUA são presididos por um
milionário (concordatário contumaz) catapultado pelo seu programa de
televisão, a comparação é inevitável: precisa-se de um Donald Trump.
A
analogia é falsa. Trump derrotou todos os candidatos óbvios do Partido
Republicano, entre eles Jeb Bush, um filho e irmão de ex-presidentes.
Por piores que tenham sido suas cabalas, ele foi eleito à sua custa, sem
magos ocultos da banca ou da marquetagem.
Para
surfar a onda de repúdio aos políticos brasileiros, o que falta ao
andar de cima é um Emmanuel Macron, mas o presidente francês teve um pé
no Partido Socialista e outro na Casa Rothschild. No Brasil a banca
terceiriza seus quadros políticos fora das avenidas Paulista e Faria
Lima. À vezes faz isso com brilho, como na criação do superministro
Antonio Palocci. Está na cadeia.
