Folha de S.Paulo – Italo Nogueira
Chamou
a atenção do deputado Marco Antônio Cabral o pedido de seu pai, o
ex-governador Sérgio Cabral, (PMDB) na véspera do interrogatório do
último dia 23. Em vez do blazer e da camisa branca com que depôs nas
cinco vezes anteriores, pediu uma camisa azul clara que costumava usar
em inaugurações de obras.
O
traje é uma espécie de uniforme de "políticos modernos". No lugar do
blazer ou terno, a camisa com a manga dobrada até o cotovelo tenta
passar, segundo marqueteiros, uma imagem de pessoa trabalhadora, ativa e
próxima do cidadão comum.
O peemedebista completa nesta sexta (17) um ano preso. Já foi alvo de 16 denúncias, que somam propinas de quase R$ 400 milhões.
Acumula três condenações e 72 anos -uma delas, de 45 anos, a maior da Lava Jato. Um sem número de investigações seguem em curso.
Em
julho, sua estratégia mudou: o novo advogado, Rodrigo Roca, estimulou
uma atitude mais altiva. Cabral também se adaptou à cadeia.
Ele
trabalha na biblioteca da Cadeia Pública José Frederico Marques, em
Benfica, zona norte do Rio. Quando sai da cela, costuma atrair rodas de
conversas. Puxou até uma salva de palmas para o ex-presidente da Rio-16
Carlos Arhtur Nuzman quando foi preso. "Este é o homem que trouxe a
Olimpíada para o Rio", disse. Já participa até do bolão do Brasileirão
dos presos da Galeria A.
Há
algumas semanas, recebeu uma caixa de apostilas para um curso de
jardinagem. Chegou assim que ele terminou o de espanhol à distância.
Nos
tempos vagos, lê os livros da biblioteca em que trabalha para redução
da pena. Já resenhou "O Alquimista", de Paulo Coelho, e "Nunca Desista
de Seus Sonhos", de Augusto Cury, o que também diminui em quatro dias a
pena.
Relatos de mordomias não faltaram. Há um mês, um home theater foi instalado na cadeia e retirado após o pastor que declarara ter doado o equipamento dizer ter sido coagido pelo ex-governador.