Ricardo Noblat
O
senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), posto em recolhimento noturno
obrigatório pelo Supremo Tribunal Federal (STF), foi abandonado por seus
pares à própria sorte. E tudo indica que ela lhe será ingrata.
Dos
81 senadores, 79 estavam, ontem, aptos a votar. Eunício Oliveira
(PMDB-CE), presidente do Senado, só votaria em caso de empate. E Aécio,
pelas razões conhecidas, não poderia votar.
Oito
senadores faltaram à sessão. Dos 71 que votaram apenas 21 disseram
“não” à proposta de deixar para o próximo dia 17 qualquer decisão quanto
à punição imposta a Aécio pelo STF.
No
próximo dia 11, a punição será mantida ou revogada pelo plenário do
STF. Se mantida, o Senado mostrou, ontem, claramente que não irá se
rebelar contra ela.
“O
erro político é desafiar quem tem a última palavra”, ensina o deputado
Miro Teixeira (REDE-RJ). A última palavra quando se trata de aplicação
da lei é do STF e de mais ninguém. E sempre será.
O
Senado parece resignado com isso. Se, ontem, não topou afrontar uma
decisão do STF, não afrontará a próxima. Se o fizesse estaria detonando
uma crise institucional de rara gravidade.
Mesmo
o PSDB, partido de Aécio, não votou fechado para livrá-lo da punição.
Dos 10 senadores presentes à sessão, oito votaram como Aécio queria, mas
dois não – Ricardo Ferraço (ES) e Eduardo Amorim (SE).
Zezé
Perrela (MG) votou com Aécio. Perrela é aquele cujo chefe de gabinete
recebeu os R$ 2 milhões pedidos por Aécio ao empresário Joesley Batista,
dono do Grupo J&S.
O
PMDB deu as costas a Aécio. Doze senadores foram favoráveis ao
adiamento e somente cinco contrários – entre eles, Renan Calheiros (AL) e
Romero Jucá (RR), presidente do partido.
Renan
bateu boca com Eunício Oliveira e deu-se mal. Ouviu dele: “O senhor não
manda aqui. Quem manda é o plenário”. Derrotado, Renan esperneou, mas
nada pôde fazer além disso.
“Chegamos
ao fundo do poço”, comentou um senador do PSDB ao fim da sessão.
Otimismo demasiado! O fundo pode ser mais embaixo para um partido que
foi incapaz de punir quem o presidiu e prevaricou.
Dê-se Aécio por satisfeito se não tiver seu mandato cassado pelo Senado.