Foto: Agência Brasil
O ex-secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, é suspeito de ter
usado uma mansão na ilha da Sardenha como parte da recompensa por ter
dado os direitos de TV a investidores do Catar. A informação foi
revelada pelo jornal italiano Il Messaggero um dia depois de um
anúncio de que Valcke e o empresário do Catar, Nasser Al Khelaifi, estão
sendo investigados por corrupção. Uma megaoperação ocorreu na
quinta-feira, com buscas e apreensões em quatro países. Valcke é acusado
de ter recebido propinas em troca de direitos de TV para os Mundiais de
2018, 2022, 2026 e 2030. Um dos suspeitos de ter pago subornos foi Al
Khelaifi, representante do Catar, controlador da rede BEIN e do Paris
Saint-Germain. Entre os locais da operação esteve Porto Cervo, uma das
praias mais exclusivas da ilha italiana. A mansão de luxo, avaliada em 7
milhões de euros (cerca de R$ 26 milhões), seria um "meio de corrupção"
de Al Khelaifi para Valcke. A polícia italiana, ao lado de
representantes suíços, esteve no local. A casa, segundo a suspeita, está
"à disposição de Valcke". O jornal ainda revela que um tribunal de
Cagliari deu uma ordem de embargo da propriedade. Ao jornal L'Equipe,
Valcke declarou que "nunca recebeu nenhuma recompensa de ninguém". A
BEIN também rejeitou qualquer tipo de irregularidade e diz estar
cooperando com as investigações. Mas o caso vai muito além da relação
entre os dois suspeitos. Procuradores fora da Suíça admitiram ao Estado
com exclusividade que a investigação e a operação permitem a abertura
de uma brecha inédita para que mergulhem na relação entre o Catar, o
futebol europeu e a Fifa. Na quinta, a sede da BEIN foi alvo de uma
operação policial na França, com o confisco de computadores de sua
cúpula. "Vamos começar a puxar o fio da meada", disse um deles, na
condição de anonimato. Para procuradores, Khelaifi é apenas um dos
representantes de Tamin bin Hamad Al Thani, o emir que decidiu usar o
futebol como instrumento de influência. Se os contratos para a Copa
estão na mira, o que os investigadores querem é saber o que existe de
fato entre o Catar e eventuais compras de votos para obter o evento de
2022 e outras suspeitas de injeção de recursos. Uma das suspeitas já em
fase de inquérito é de que a compra do PSG pelo Catar teria feito parte
de um acordo entre o emir e o então presidente da França, Nicolas
Sarkozy. Em troca do dinheiro ao clube e outros negócios, os votos do
francês Michel Platini e de outros europeus iriam ao Catar na eleição na
Fifa. Agora, a esperança dos investigadores é de que o confisco dos
e-mails, celulares e outros documentos do cartola possa começar a dar
uma dimensão da real influência nos bastidores envolvendo o Catar no
futebol internacional, um assunto que vem gerando polêmica há uma
década. O caso ainda ocorre num momento em que dirigentes questionam
como o time de Paris encontrou 222 milhões de euros para levar Neymar do
Barcelona e diante de uma pressão diplomática sem precedentes pela
Arábia Saudita contra o Catar. Há apenas uma semana, líderes no Oriente
Médio chegaram a apontar que bastava o Catar abandonar o Mundial de 2022
que os bloqueios hoje existentes contra o país seriam repensados.