segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Às vésperas de votação de segunda denúncia, atuação de Maia intriga Temer de novo



Às vésperas de votação de segunda denúncia, atuação de Maia intriga Temer de novo

Foto: Luis Macedo/ Câmara dos Deputados
Às vésperas da votação da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, as movimentações políticas do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), intrigam o Palácio do Planalto. Desde setembro, quando o deputado acusou uma ofensiva do PMDB e do governo para "atropelar" o crescimento do DEM e participou de jantares com colegas da oposição, a escalada de atritos entre antigos aliados expôs o desgaste no relacionamento. Em conversas reservadas, Temer tem dito que não entende o que Maia quer. Mesmo assim, na tentativa de evitar novos problemas, o presidente pediu a auxiliares e a dirigentes do PMDB que "joguem água na fervura". A prioridade é evitar mais uma crise no momento em que a Câmara vai decidir o futuro de Temer e dos ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral), também denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Quem participou do jantar com Maia na terça-feira (3), na casa da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), disse que ele não quer se associar à impopularidade de Temer e pretende se descolar aos poucos, por uma questão de sobrevivência política. O presidente tem apenas 3% de aprovação, segundo pesquisa Ibope, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Primeiro na linha de sucessão da Presidência da República e no quinto mandato consecutivo, Maia jura que será candidato à reeleição e a uma nova temporada no comando da Câmara. Até a cúpula do DEM, no entanto, admite que, dependendo do cenário, ele pode disputar o Planalto, em 2018. "Rodrigo é um grande articulador e tem condições de dar voos mais altos. Pode compor qualquer chapa majoritária no ano que vem", afirmou o líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB). Embora Maia tenha se reunido algumas vezes com o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), o DEM assegura que não o convidou para ser candidato à Presidência. "Quero ver quem vai ficar descolado do governo no ano que vem, quando o Brasil estará retomando o crescimento. Se descolar agora, não cola mais lá na frente", afirmou o vice-líder na Câmara, Beto Mansur (PRB-SP). Maia não esconde a irritação com o que chama de "fogo amigo" palaciano e recentemente escancarou a contrariedade com ações de Padilha e Moreira. "Nem na cadeira de presidente eu sento quando o Michel está fora. Não faço isso de jeito nenhum", contou o deputado, que já assumiu várias vezes o lugar de Temer, em razão das viagens do peemedebista. "Há muitas intrigas e espero que eles sejam mais respeitosos comigo", emendou o presidente da Câmara, sempre se referindo ao governo como "eles". No encontro que teve Kátia como anfitriã - o segundo em menos de duas semanas -, Maia também fez reparos à atuação de Temer. Diante de senadores críticos ao governo, como Renan Calheiros (PMDB-AL) e Jorge Viana (PT-AC), apontou erros do Planalto na relação com os aliados e disse ter avisado o presidente, quando a Câmara barrou a primeira denúncia contra ele, em 2 de agosto, que era preciso "reconstruir" o governo, com uma nova cara e uma agenda de desenvolvimento para o País, se não quisesse enfrentar mais turbulências. Na avaliação de Maia, como nada disso foi feito, o ambiente político de hoje é mais adverso a Temer. Embora calculando que o presidente terá votos para impedir o prosseguimento da segunda denúncia - desta vez por organização criminosa e obstrução da Justiça -, o deputado prevê que a vida do governo não será fácil. Em quase todos os partidos há aliados rebeldes e o PSDB continua cada vez mais dividido. O diagnóstico também está sendo traçado pelo presidente da Câmara em reuniões mantidas com empresários, que vira e mexe o procuram para medir a temperatura da crise. Nem sempre esses encontros constam da agenda oficial. Até mesmo auxiliares de Temer admitem agora que o governo poderá ter menos apoio do que na primeira votação - quando conseguiu 263 votos para arquivar a denúncia por corrupção passiva -, mas não veem riscos para o Planalto. A nova acusação do Ministério Público Federal passará pelo crivo da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) depois do feriado e irá a plenário por volta do dia 24. O ministro da Secretaria de Governo, Antônio Imbassahy, saiu em defesa de Maia e disse que ele mantém uma "conduta exemplar". Questionado sobre os rumores de que o presidente da Câmara estaria interessado na cadeira de Temer, Imbassahy encerrou o assunto. "Não identifico qualquer 'fogo amigo', até porque jamais alguém faria um comentário contra o Rodrigo na minha presença. Todos sabem da relação de confiança e amizade que temos", disse o ministro, que é filiado ao PSDB. As críticas de Maia na direção do governo e do PMDB ganharam corpo depois que o partido de Temer pulou na frente do DEM para filiar parlamentares dissidentes do PSB. Na lista estava o senador Fernando Bezerra Coelho (PE). Furioso, Maia falou em "facada nas costas" e não poupou o Planalto. "A gente espera que o PMDB, entendendo tudo que o DEM fez pelo governo até agora, tire os pés da nossa porta", reagiu ele, em 20 de setembro. Conhecido pelo estilo passional, Maia parecia outro homem, 15 dias antes, quando assinou o acordo de recuperação fiscal do Rio com a União. Presidente em exercício, o deputado foi às lágrimas naquela cerimônia. O ajuste nas contas públicas será sua bandeira da campanha, em 2018. Resta saber a que cargo.