Planalto tenta se afastar e diz que R$ 51 milhões são questão pessoal
O Globo – Vinicius Sassine e Catarina Alencastro
Ex-homem forte da articulação política do governo Michel Temer, o ex-ministro sa Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) voltou a ser preso nesta sexta-feira na Penitenciária da Papuda, em Brasília, e se transformou em novo fantasma para os políticos do comando do PMDB e do governo. Tido como uma pessoa instável emocionalmente, Geddel é apontado como uma bomba que pode explodir sob pressão.
O grande temor é de uma delação premiada que complique a situação do governo, na véspera de uma possível nova denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente Temer.
A prisão foi realizada ontem em Salvador pela Polícia Federal (PF), depois que foi descoberto o “bunker” onde Geddel escondia R$ 51 milhões de origem desconhecida. Ao menos parte do dinheiro seria de quando Geddel era vice-presidente da Caixa, no governo de Dilma Rousseff. A suspeita da PF é que ao menos R$ 20 milhões sejam de propinas para viabilizar a liberação de crédito do FI-FGTS a empresas. O peemedebista também integrou a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, como ministro da Integração Nacional.
A estratégia do Planalto é isolar o antigo aliado e se blindar de uma possível delação. No meio da tarde, o ex-ministro foi transferido para Brasília e ficará preso na Papuda, onde está também o operador Lúcio Bolonha Funaro. Junto com Geddel foi preso o diretor-geral da Defesa Civil de Salvador (Codesal), Gustavo Ferraz (PMDB), seu aliado. No fim do dia, Ferraz foi exonerado.
O pedido de prisão foi feito pela PF e endossado pela Procuradoria da República no Distrito Federal. Os crimes investigados são corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. O mandado que resultou na operação foi assinado pelo juiz Vallisney de Souza, da 10ª Vara Federal de Brasília.
CRIMES DE 'FORMA SORRATEIRA'
O juiz federal disse, na decisão, que o político baiano reitera na prática de crimes “de forma sorrateira” e “em estado de permanência”. No mandado de prisão, Vallisney lembrou que, em diferentes depoimentos, inclusive por ocasião da primeira prisão, em julho, Geddel não fez qualquer menção aos R$ 51 milhões.
A Polícia Federal encontrou no “bunker” onde estavam os R$ 51 milhões, que tinham impressões digitais de Geddel, uma fatura de uma mulher que é empregada do irmão dele, o deputado federal Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA). Além disso, duas testemunhas ouvidas pela PF — o dono do imóvel onde o dinheiro foi apreendido e a administradora do condomínio — afirmaram que o apartamento foi emprestado a Lúcio. Os irmãos são dois dos políticos do PMDB mais próximos e íntimos do presidente Temer.
Embora o ex-ministro seja amigo do presidente há mais de 20 anos, o entorno de Temer insiste na narrativa de que não há motivo para temores no Palácio do Planalto com relação a uma potencial delação do ex-articulador político da Presidência. A descoberta de R$ 51 milhões em notas de R$ 50 e R$ 100 num imóvel em Salvador está desde o primeiro momento sendo tratado como um problema pessoal de Geddel.
No PMDB o discurso é o mesmo. O tom foi dado pelo presidente do partido, senador Romero Jucá (RR), no dia seguinte à veiculação das imagens das malas e caixas de papelão abarrotadas de dinheiro. Na ocasião, Jucá tratou Geddel como mero “filiado” ao partido.
— Qualquer denúncia sobre qualquer filiado deve ser explicada pelo filiado. Não conheço essa situação do Geddel, quem tem que explicar é a Polícia Federal e, eventualmente, se ele tiver algum tipo de relação, ele também deve explicar. Isso não fere o PMDB — disse Jucá, naquele momento.
Passados três dias desde a descoberta do bunker, e mesmo após a prisão de Geddel, a decisão do PMDB e do Planalto de o isolar permanece inalterada. Correligionários do ex-ministro afirmam que não há razões para se preocupar. A defesa de Geddel disse que só se manifestará quando tiver acesso aos autos.