Prisão de delatores da JBS é a maior crise de credibilidade da Lava Jato
Leandro Colon – Folha de S.Paulo
O falastrão Joesley Batista passou a noite na cadeia. A primeira das pelo menos cinco previstas na prisão temporária decretada pelo ministro Edson Fachin (STF).
No
áudio que o levou para atrás das grades, Joesley debocha das
instituições e diz ao parceiro (agora de cela) Ricardo Saud que não
serão presos. "No final, a realidade é essa. Nós não 'vai' ser preso.
Nenhuma chance disso acontecer", disse o empresário. Aconteceu e a
realidade é outra.
Criminoso
confesso, o empresário das carnes, badalado pelo mercado nos últimos
anos, se aproximou de um procurador da República e dublê de advogado
para fechar um acordo de delação premiada com a própria
Procuradoria-Geral da República.
Quis
se livrar da cadeia em troca de entregar políticos, entre eles o
presidente Michel Temer. Para tanto, apresentou à PGR a gravação de
péssima qualidade, tosca e inconclusiva do encontro que tivera com o
presidente no Palácio do Jaburu.
A prisão de Joesley Batista carrega um enredo tragicômico que expõe as fragilidades do instituto da delação premiada e joga a Lava Jato na sua maior crise de credibilidade até aqui.
Mesmo
que Joesley e sua turma tenham enganado o procurador-geral, Rodrigo
Janot, como o chefe da PGR argumenta ao pedir as prisões, o episódio
decerto lança dúvidas sobre outras colaborações celebradas nos últimos
três anos. Quem garante que não houve omissão de informações em delações
da Odebrecht, de ex-diretores da Petrobras, e de demais políticos,
empreiteiros e empresários?
Qual o grau de confiabilidade no que os delatores contaram? Revelaram 100% do que sabiam? Não fosse o áudio do "nós não 'vai' ser preso"
—que, segundo a versão oficial, foi gravado acidentalmente—, Joesley
estaria ainda por aí, tomando todas e tirando onda de suas traquinagens.
A
delação da JBS virou um mico. A da Odebrecht emperrou. Ou a Lava Jato,
que prestou serviço inestimável ao país, corrige essa rota ou o que
temos agora é o início do seu velório.