O
agente Newton Ishii, que ficou célebre como o "Japonês da Federal",
tentou passar despercebido no último dia 18 de agosto enquanto escoltava
o ex-deputado Cândido Vaccarezza, preso pela Lava Jato. Vestiu uma
touca ninja preta e escondeu os olhos puxados atrás de óculos escuros.
Não
adiantou. A face emblemática das operações policiais do petrolão foi
reconhecida mesmo embaixo do disfarce e virou piada nas redes sociais.
Ishii já foi tema de marchinha de carnaval e sua feição acabou
reproduzida em máscaras para os foliões.
Agora ele quer ter seu rosto exposto nas prateleiras das livrarias do país. O agente federal confirmou à Folha
que está trabalhando numa biografia que tem como ápice sua experiência
na Lava Jato. Disse que pretende lançar a obra até o final do ano, mas
não quis dizer se já fechou contrato com alguma editora. Não quer
despertar os olhares dos "invejosos de plantão".
A Folha
apurou que Ishii chamou um jornalista para colocar no papel os seus
relatos. Segundo uma pessoa com acesso à carceragem da PF, é um rapaz de
cavanhaque e olhos claros, que usa óculos. Aí há outro mistério. Ishii
não revela o nome do escritor.
O
agente não é o único e nem foi o primeiro a perceber que há leitores
interessados nos bastidores da operação. Com o crescimento da produção
sobre o assunto, seria quase possível organizar uma Flip (Feira
Literária Internacional de Paraty) apenas com gente que já calçou
tornozeleira eletrônica —o próprio Ishii já usou uma por ter sido
condenado por facilitação de contrabando.
Paulo
Roberto Costa, o primeiro executivo da Petrobras a virar delator,
passou o último ano relembrando tudo pelo que passou no petrolão. Ajudou
o fato de ter feito anotações durante os seis meses em que ficou preso.
"Eu
vou contar como eu vivia antes da Lava Jato e o que aconteceu depois
que a operação chegou em mim", disse Costa. "Já escrevi mais de 150
páginas. Muita coisa do tempo em que fiquei preso", disse. Costa foi um
dos primeiros a fazer delação. Quando começaram as prisões em massa na
Lava Jato ele já havia saído. Não cruzou com os empreiteiros que
delatou.
Condenado
em oito processos na Lava Jato, ele vive no Rio de Janeiro, onde cumpre
em regime aberto os 17 anos que faltam de uma sentença de 20 anos.
Costa negocia com duas editoras um contrato para lançamento de seu livro
e pretende terminar de escrever a obra em cerca de um mês. Não fala em
cifras.
O
doleiro Alberto Youssef, preso na mesma época que Paulo Roberto Costa,
também vai ter sua história exposta nas livrarias em breve. O doleiro,
ao contrário do diretor da Petrobras, não escreve de próprio punho.
Escolheu o jornalista Pedro Marcondes para dar acesso ao seu passado.
Marcondes
deixou a revista "IstoÉ" há mais de um ano para trabalhar
exclusivamente na história do principal doleiro do país. Tem viajado
para Curitiba e Londrina para entrevistar personagens e conseguir
documentos sobre os casos contados pelo delator. Começou a gravar
conversas com Youssef ainda na cadeia.
Youssef
e Marcondes assinaram contrato com a Editora Objetiva, selo da
Companhia das Letras. A previsão é que o trabalho seja finalizado até o
fim do primeiro semestre de 2018 e resulte num livro de cerca de 400
páginas.