O governo entrou em setembro à beira de um ataque de nervos. Na noite de sexta, a Presidência emitiu uma nota agressiva, com ataques aos delatores Lúcio Funaro e Joesley Batista. No revide, o dono da JBS chamou Michel Temer de "ladrão geral da República".
O
Planalto tenta se antecipar ao que vem por aí: a segunda denúncia
criminal contra o presidente. A estratégia, mais uma vez, resume-se a um
esforço de desqualificar quem acusa. A novidade é o ataque a Funaro,
apontado como operador dos esquemas do PMDB da Câmara.
A
nota oficial diz que o doleiro é um "criminoso notório e perigoso",
movido pela "vontade inexorável de perseguir o presidente da República".
Em outro trecho, o documento assume tom de folhetim e se refere ao
delator como "essa pessoa".
Na
versão do palácio, Funaro prestou um depoimento falso para servir a
quem tenta derrubar Temer. O problema é que "essa pessoa" não foi
inventada pelo Ministério Público ou pela oposição. Quem pôs Funaro na
roda foi o advogado José Yunes, primeiro-amigo do presidente.
Em
março, Yunes contou ter recebido um "pacote" das mãos do doleiro, a
pedido do ministro Eliseu Padilha. O advogado disse que não abriu a
correspondência, mas afirmou ter sido usado como "mula involuntária" do
chefe da Casa Civil.
Doleiros
não entregam flores, entregam dinheiro vivo. Segundo o depoimento de
Cláudio Melo Filho, o "pacote" continha R$ 1 milhão e fazia parte de um
acerto da Odebrecht com o grupo de Temer. À exceção de Yunes, os outros
personagens da história continuam no Planalto.
A
nova denúncia dará início a outra rodada de negociações para salvar
Temer. O presidente estuda antecipar a volta da China para se reunir com
deputados, que também não costumam receber flores. Em meio aos ataques a
Funaro e Joesley, a nota do Planalto disse que está em curso um
"processo vergonhoso". Deste ponto, parece impossível discordar.