terça-feira, 5 de setembro de 2017

Delação: ex-procurador agindo dos dois lados do balcão



A suspeita de que o ex-procurador Marcello Miller (foto à esquerda) atuou dos dois lados do balcão — municiando investigados com informações em uma frente e liderando apurações na outra — coloca em xeque não só a delação da JBS, mas ao menos dois outros acordos que ele capitaneou e que se desenrolaram em molde semelhante ao dos irmãos Batista. Sérgio Machado e Nestor Cerveró também conquistaram o título de colaboradores após gravarem, de maneira oculta, políticos e autoridades.

Os políticos que foram alvo da delação da JBS partirão para a tese de que os flagrantes obtidos pela PGR foram armados por Miller em parceria com os irmãos Batista, o que poderia anular o acordo.
O trabalho do procurador-geral, Rodrigo Janot, também será questionado. Investigadores da Polícia Federal já diziam, antes da explosão do escândalo envolvendo Miller, que o prazo em que a delação da JBS foi fechado era “atípico”.
Em depoimento em junho de 2016, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró mencionou Miller. Ao explicar o contexto da gravação que seu filho fez com o ex-senador Delcídio do Amaral — determinante para ele conseguir a delação — disse que “o Marcelo falou (…): ‘só com seu depoimento não vou reabrir o caso'”.
Depois, Cerveró afirmou que a iniciativa de grampear Delcídio foi de “Bernardo com a — vamos lá — com a sugestão do próprio procurador”. Interpelado, voltou atrás. Disse ter se expressado mal.