Governar e se defender ao mesmo tempo
O grau de produtividade de um presidente da República poderia ser medido, antes de mais nada, pelo tempo que ele dedica à função. E, mais importante, pelos avanços que implementa e retrocessos que evita durante o mandato.
Os últimos dois critérios são de avaliação complexa e subjetiva. Reformar a legislação trabalhista, um dos feitos do presidente Michel Temer, foi considerado avanço pelos situacionistas e retrocesso pela oposição. A avaliação objetiva só será possível nos próximos meses, a depender da melhoria dos índices de ocupação e da qualidade das novas vagas.
Já o tempo que o presidente dedica ao mandato é de mais fácil mensuração. Donald Trump, o presente norte-americano, é criticado por passar muito tempo em seu campo de golfe em New Jersey.
Temer, ao que se saiba, não tem campo de golfe. Mas, desde 17 de maio, quando a conversa subterrânea entre ele e o magarefe goiano, Joesley Batista, foi revelada, o presidente se dedica quase integralmente à própria defesa.
Enquanto isto, o projeto mais vistoso de seu mandato-tampão, reformar a previdência social, parece cada vez mais distante. Como economistas de todos os matizes reconhecem como indispensável dar um freio nos gastos com aposentadorias – do INSS e do serviço público -, deixar esta votação para o próximo mandatário se constitui num risco duplo: porque vai custar mais caro & porque um arrivista pode considerá-la desnecessária.
Ser refém do Congresso Nacional é regra no “presidencialismo de cooptação” cunhado por Fernando Henrique Cardoso. Quanto mais impopular (e suspeição por malfeitos), mais vulnerável.
Já que os parlamentares têm como prioridade reeleger-se em 2018 sobretudo para ficar longe do voluntarismo de procuradores e da diligência de juízes de primeira instância – abrigando-se, assim, na histórica vagareza dos juízes supremos -, o andor da atividade legislativa fica prejudicado. Temer refém do Congresso; o Congresso refém da autopreservação.