Helena Chagas – Blog Os Divergentes
A
nova procuradora geral da República, Raquel Dodge, parece ter percebido
que caiu numa armadilha do Planalto e resolveu passar sua posse – na
manhã do dia 18 de setembro – do Palácio do Planalto para a sede do
Ministério Público. Com isso, ela atende conselhos de integrantes da
cúpula do Ministério Público que identificaram um mal-estar na categoria
depois do encontro da nova PGR com Michel Temer à noite no Jaburu, na terça passada.
Eles
alertaram Dodge de que estava pegando mal junto ao público interno a
quebra do precedente criado desde a nomeação de Claudio Fontelles, no
governo Lula, de realizar a primeira posse de um PGR na sede da própria entidade, com a presença do presidente da República.
Lula
foi à PGR uma vez dar posse à Fontelles e outra na posse de Roberto
Gurgel. Sua atitude, inaugurando junto a tradição de nomear o primeiro
na lista dos nomes votados pela categoria, marcou o início de uma nova
era de grande autonomia do Ministério Público – até demais, para muita
gente. Dilma Rousseff, na sua vez, também foi à PGR dar a primeira posse a Rodrigo Janot. Nas reconduções, sim, é que algumas dessas solenidades ocorreram no Planalto.
Agora,
em meio ao tsunami da Lava Jato, que o atingiu pessoalmente pelas mãos
de Janot, Michel Temer tem feito um grande esforço para mostrar que tem
uma PGR para chamar de sua – o que, segundo quem conhece Raquel Dodge,
não é absolutamente verdade. Mas a suposta proximidade com o Planalto
foi o suficiente para botar a nova PGR, antes mesmo de assumir, sob o
tiroteio de parte da politizada classe que comandará.
Amigos
da nova PGR acham que Raquel foi vítima de uma armadilha ao ser
convidada para o encontro com Temer às 22 horas no Jaburu. Não
precisava, pois podia perfeitamente ter se realizado em horário
comercial, às claras, no Planalto. Do jeito que foi, serviu para
legitimar outros encontros do presidente na calada da noite, com pessoas
e objetivos diferentes, como no caso de Joesley Batista.
Por
isso, Dodge soltou nota no domingo esclarecendo as circunstâncias da
conversa e, num gesto de independência, está transferindo a posse para a
PGR.
Pode
parecer uma obviedade, mas, a partir de agora, vai ficar cada vez mais
claro que o que é bom para Michel, não é bom para Raquel.