Folha de S.Paulo – Bruno Boghossian
Para Cunha, Fachin age "como uma criança que perde e leva boa sua la para casa, acabando com o jogo".
Com
dificuldades na negociação de sua delação premiada, o ex-deputado
Eduardo Cunha abriu uma ofensiva contra o relator da Lava Jato no STF
(Supremo Tribunal Federal), Edson Fachin. Ele acusa o ministro de
obstruir pedidos de liberdade e beneficiar executivos da JBS.
Em
nota escrita no complexo penal em que está preso, Cunha relata que
Joesley Batista e Ricardo Saud, da JBS, pediram ajuda para aprovar o
nome de Fachin para o STF, em 2015, e que disseram manter "relação de
amizade" com o então candidato.
"Quando
Joesley Batista e Ricardo Saud me procuraram para ajudar na aprovação
[de] Fachin, além da relação de amizade que declararam ter com ele, me
passaram a convicção de que o país iria ganhar com a atuação de um
ministro que daria a assistência jurisdicional de que a sociedade
necessitava."
O
ex-presidente da Câmara alega que Fachin concedeu "assistência célere e
eficiente" aos donos da JBS, "que em apenas três dias conseguiram
homologar um acordo vergonhoso, onde ficaram livres, impunes e ricos".
Fachin
já afirmou que não contou "com o auxílio de qualquer empresa ou grupo
em seu processo de indicação" e que "qualquer insinuação neste sentido é
inaceitável". A JBS não comentou as declarações de Cunha que ligam o
grupo ao ministro.
Na
nota entregue a aliados na semana passada, o ex-deputado afirma que o
ministro se recusa a pautar pedidos de habeas corpus da Lava Jato desde
que a 2ª turma do STF decidiu libertar o ex-ministro José Dirceu, em
maio.
Para Cunha, Fachin age "como uma criança que perde e leva boa sua la para casa, acabando com o jogo".
Com
poucas esperanças de obter os benefícios da delação, Cunha passou a
apostar que o STF poderia tirá-lo da prisão, assim como ocorreu com
Dirceu. Ele reclama, porém, que o relator não leva seus pedidos a
julgamento.
"O que eu gostaria [...] é ter o direito ao julgamento e não ser vítima de uma obstrução da Justiça", afirma.
Procurado pela Folha,
o gabinete de Fachin afirmou que Cunha já teve dois pedidos negados
pelo relator da Lava Jato em decisões liminares e que apenas dois
recursos aguardam julgamento.