Com uma claque de deputados aliados e ministros, o presidente Michel
Temer (PMDB) criticou, ontem, em pronunciamento, o fatiamento da
denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, oferecida
contra ele ao Supremo Tribunal Federal. “Se fatiam as denúncias para
provocar fatos semanais contra o governo. Querem parar o País, parar o
Congresso num ato político, com denúncias frágeis e precárias. Atingem a
Presidência da República, atentam contra o País”, afirmou.
Temer disse que “reinventaram o Código Penal e incluíram uma nova
categoria: a denúncia por ilação”. “Se alguém cometeu um crime e eu o
conheço, logo sou também criminoso”, disse. Janot denunciou
criminalmente ao STF o presidente por corrupção passiva com base na
delação dos acionistas e executivos do Grupo J&F, que controla a
JBS. O ex-assessor especial do presidente e ex-deputado federal Rodrigo
Rocha Loures também foi acusado formalmente.
Sem citar nenhuma vez o nome de Janot, Temer disse ainda está
disposto a lutar pelo governo e por sua honra. “Não fugirei das
batalhas, nem da guerra que temos pela frente. A minha disposição não
diminuirá com os ataques irresponsáveis à instituição Presidência da
República, nem ao homem Michel Temer. Não me falta a coragem para seguir
na reconstrução do Brasil e na defesa de minha dignidade pessoal”,
disse no fim do discurso de cerca de 20 minutos.
O presidente afirmou que foi denunciado por corrupção passiva, sem
jamais ter recebido valores. “Nunca vi o dinheiro e não participei de
acertos para cometer ilícitos. Onde estão as provas concretas de
recebimento desses valores? Inexistem. Reinventaram o código penal e
incluíram uma nova categoria: a denúncia por ilação. Se alguém cometeu
um crime e eu o conheço, logo sou também criminoso”, reforçou.
Temer destacou ainda que é advogado e que está tranquilo em relação a
denúncia no âmbito jurídico, e que ela é na realidade uma “infâmia de
natureza política”. “No momento que estamos colocando o País nos trilhos
somos vítimas desta infâmia de natureza politica”, disse o presidente,
destacando que foi denunciado “a essa altura da vida por corrupção
passiva”. Segundo Temer, “abriu-se perigosíssimo precedente em nosso
Direito”. “Esse tipo de trabalho trôpego permite as mais variadas
conclusões sobre pessoas de bem e honestas”, disse.
Sempre tão frio, contido, formal, o presidente foi mercurial na sua
declaração pela TV e partiu diretamente para cima do procurador geral da
República, Rodrigo Janot. Classificando a denúncia contra ele de
“ilações”, Temer fez uma comparação: se a mala de dinheiro de Rocha
Loures foi para ele (como acusa a PGR), por que os “milhões” que o
ex-braço direito de Janot, Marcelo Miller, teria ganhado para advogar na
delação da JBS não seriam também de Janot?
REAÇÃO DA OPOSIÇÃO– A oposição reagiu fortemente ao
pronunciamento do presidente Temer, classificando-o de desastroso. Para o
líder da Rede, Alexandre Molon (RJ), Michel Temer usou e abusou de
cinismos e ironia. “Na ausência de qualquer argumento minimamente
razoável para fundamentar a sua defesa, o presidente recorreu à tática
baixa e rasteira de tentar desqualificar quem teve a coragem de
denunciar os crimes dele. Foi um pronunciamento que revelou não uma
defesa fraca, mas a inexistência da própria defesa, porque ele
simplesmente abriu mão de tentar se defender. Um desastre para o país",
afirmou.
Impeachment engavetado– A
denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra Michel
Temer forneceu o argumento perfeito para que o presidente da Câmara,
Rodrigo Maia (DEM-RJ), colocasse de vez em banho-maria os pedidos de
impeachment do presidente. Maia vinha sendo cobrado pela oposição para
que tratasse dos pedidos e, agora, diz que “não tem sentido tratar disso
ao mesmo tempo em que já está sendo apresentada uma denúncia pela PGR”.
Oficialmente, Maia diz que não está arquivando os pedidos. Na prática,
ganha tempo para que eles percam força.