Negociada por cerca de oito meses e assinada há duas semanas com a
Procuradoria Geral da República (PGR), a delação premiada do
ex-presidente do PP, o ex-deputado federal Pedro Corrêa, cita políticos
da base do governo e da oposição. Em anexo ao qual a Folha de S. Paulo
teve acesso, Corrêa afirma que o ministro do Tribunal de Contas da União
(TCU), Augusto Nardes, durante seu mandato de deputado federal pelo PP,
entre 2003 e 2005, esteve entre os nomes da bancada da Câmara que
recebiam propina arrecadadas pelo deputado José Janene junto à Petrobras
e outros órgãos. Corrêa lembrou ainda que, quando Nardes foi nomeado
ministro do TCU, um recibo que comprovava pagamento de propina foi
destruído. De acrodo com ele, o recibo era de valor "baixo", entre R$ 10
mil e R$ 20 mil, e poderia "prejudicar a nomeação". O ex-presidente do
PP apresentou também uma lista de operadores de propina com nomes como
Andrea Neves, irmã do senador Aécio Neves (PSDB-MG) e uma de suas
principais assessoras. A lista inclui ainda Marcos Valério, operador do
mensalão, e Benedito Oliveira, o Bené, investigado na Operação Acrônimo,
que apura suspeitas de irregularidades na campanha de Fernando Pimentel
(PT) ao governo de Minas Gerais, em 2014. Na delação há também um anexo
sobre o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB),
voltado à votação da emenda constitucional que possibilitou sua
reeleição. O ex-presidente teria contado com o apoio do empresariado
para aprovação do projeto. Corrêa cita o ex-presidente Lula ao relatar
uma reunião com participação do então ministro da Casa Civil, José
Dirceu, e de José Eduardo Dutra, presidente da Petrobras na época, sobre
a nomeação de Paulo Roberto Costa. Lula teria atuado em nome do
indicado. "Mas Lula, eu entendo a posição do conselho. Não é da tradição
da Petrobras, assim, sem mais nem menos, trocar um editor", disse
Dutra, segundo Correa. "Se fossemos pensar em tradição nem você era
presidente da Petrobras e nem eu era presidente da República", teria
respondido o petista. O relato aponta que, 15 dias depois desse diálogo,
com a nomeação de Costa, o PP destravou a pauta do Congresso Nacional. A
delação tem pouco mais de 70 anexos, com diferentes temas. Cinco são
referentes a Lula e cinco a Dilma.