A criação de abelhas pode ser uma nova
alternativa produtiva para mulheres que vivem no entorno do Lago de
Sobradinho, na Bahia. Um grupo de 30 moradoras dos municípios de Casa
Nova, Remanso, Sobradinho, Pilão Arcado e Sento Sé terminarão o ano de
2015 prontas para iniciar a atividade.
A capacitação destas mulheres foi feita
através de cursos de meliponicultura (criação de abelhas sem ferrão)
oferecidos ao longo do ano pela Universidade Federal do Vale do São
Francisco (Univasf), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa Semiárido) e Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf).
O último deles acontece nesta quarta e quinta-feira, 16 e 17 de
dezembro, no povoado do Sítio, em Sento Sé.
De acordo com a instrutora Eva Mônica
Sarmento, professora da Univasf, esta é uma forma de dar valor às
mulheres e de incentivá-las a ter uma fonte de renda. Segundo ela, a
criação de abelhas, seja com ou sem ferrão, não exige tanta força
física, e as mulheres têm condições de trabalhar nesta atividade.
Prova disso é a experiência de Lucidalva
Lacerda, do município de Sobradinho, que há dois anos trabalha com a
criação. "É tão gratificante que não é cansativo", afirma, contando que
capturou as abelhas "na mata, de machado e sozinha". Segundo ela,
somente no ano passado, com 17 caixas de abelha, produziu 800 litros de
mel, o que gerou um incremento de cerca de R$ 4 mil na sua renda. Com o
curso, diz que teve a oportunidade de aprender técnicas que não
conhecia, como a pintura das caixas e o manejo correto das abelhas.
"Com foco na meliponicultura, essas
mulheres também vão contribuir com a sustentabilidade do ecossistema",
destaca o instrutor José Fernandes Neto, engenheiro agrônomo da extinta
Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA). Segundo ele, são as
abelhas nativas que fazem a polinização e a perpetuação das plantas da
Caatinga.
Esse viés da atividade também conquistou a
produtora rural e professora de geografia Maria Aparecida Silva, de
Sobradinho, que se declara "amante da Caatinga e da natureza". Ela conta
que aprimorou no curso todo o conhecimento adquirido com os avós, e
pretende começar a criação: "A mulher é mais cuidadosa, atenciosa,
acredita mais, e eu tenho esperança de que no futuro vai dar resultado".
Para que possam iniciar ou potencializar
as atividades, cada uma das mulheres beneficiadas pelo projeto receberá
20 colmeias – 10 para abelhas sem ferrão e 10 para abelhas com ferrão –,
além dos acessórios necessários, como macacões, luvas, botas,
fumegador, cera alveolada, suporte para colmeias, entre outros. Em 2016,
elas participarão ainda de uma nova capacitação, dessa vez em criação
de abelhas com ferrão (apicultura).
Histórico - Desde 2005, produtores dos
cinco municípios vêm sendo beneficiados pelo Projeto Lago de Sobradinho,
realizado em parceria entre a Embrapa Semiárido e a Chesf, com atuação
voltada para o desenvolvimento sustentável de comunidades rurais
situadas no entorno do lago. De acordo com seu coordenador, o
pesquisador da Embrapa Rebert Coelho Correia, são desenvolvidas diversas
atividades, envolvendo a agricultura, pecuária, piscicultura entre
outras. Porém, sem diferenciação entre mulheres e homens, estes acabam
sendo mais beneficiados, visto que ainda são maioria no meio rural.
"Daí a ideia de aproveitar toda a
estrutura já montada na região para atender a este público específico e
com grande potencial para a criação de abelhas", afirma Rebert. Este
novo projeto, denominado Inserção e capacitação da mulher em atividade
da agricultura familiar em Municípios do Território do Sertão do São
Francisco, é coordenado pela Univasf, com financiamento do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do
Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e da Secretaria de Políticas
para as Mulheres (SPM), e realizado em parceria com a Embrapa e a Chesf
por meio do Projeto Lago de Sobradinho.
Embrapa/Semiárido