Da Folha de .Paulo - Valdo Cruz e Gustavo Uribe
"Ela
nunca confiou em mim." Foi essa a reação, em conversa com amigos neste
domingo (6), do vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) às declarações da
presidente Dilma Rousseff de que espera "integral confiança" do peemedebista durante a tramitação do processo de impeachment contra ela.
Desde
a decisão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de aceitar o
pedido de afastamento da petista, Temer evitou dar declarações públicas
em defesa de Dilma, o que gerou reclamações do governo federal e até
desentendimentos entre os dois lados.
No
sábado (5), em viagem a Pernambuco, a presidente afirmou: "Espero
integral confiança do Michel Temer e tenho certeza que ele a dará.
Conheço o Temer como político, como pessoa e como grande
constitucionalista".
O
comentário foi visto pela equipe do vice-presidente como mais uma
cobrança pública de apoio do peemedebista e, principalmente, de
condenação aos argumentos jurídicos do processo de impeachment usados
pelos partidos de oposição. Na semana passada, ministros petistas
trabalharam para constranger o vice a se solidarizar publicamente com a
petista.
A
desconfiança do peemedebista, de que o governo federal busca
constrangê-lo a se engajar na defesa da presidente, é confirmada nas
reclamações de bastidores de assessores presidenciais.
No
domingo, esses assessores faziam a seguinte avaliação: Temer, como
jurista, sabe que juridicamente o pedido de impeachment é insustentável.
Ele poderia condená-lo, mas não o faz porque está de olho no lugar da
presidente.
O
Planalto enxerga pelo menos um lado positivo na postura de Temer e do
PMDB. A de que eles, ao "irem com muita sede ao pote", podem gerar uma
rede de solidariedade à presidente por parte de outros partidos e até de
setores da sociedade. Isso, segundo um assessor, será explorado pelo
governo na estratégia de defesa de Dilma.
UNIFICAÇÃO
Na
conversa com interlocutores, Temer disse que não cabe a ele fazer
oposição à presidente nem liderar movimentos para tirá-la do Palácio do
Planalto, mas não demonstrou nenhuma disposição em responder a seus
apelos. "Por que agora ela quer minha confiança?", indagou o vice.
Para aliados, Temer não pode nem virar advogado de defesa nem de condenação da presidente, tem de seguir defendendo uma saída que leve à unificação do país.
Em
suas conversas neste domingo (7), o vice-presidente afirmou que a
presidente deveria assumir esse papel de pacificação nacional, fazer
gestos nesse sentido, no que os dois estariam de acordo, mas até aqui
ela tem preferido partir para o confronto.
O
peemedebista voltou a ser aconselhado a atuar como observador e de
voltar a submergir, como fez em setembro depois de afirmar que seria
difícil a presidente petista concluir o mandato se seguisse com
popularidade tão baixa. O vice está preocupado com as repercussões de
seu posicionamento, que estariam passando a imagem de que ele estaria "conspirando".
Um
interlocutor diz que Temer não pode impedir que amigos defensores do
afastamento da petista façam suas articulações, mas ele pessoalmente não
pode, nem vai comandar nenhuma operação neste sentido.
Temer,
nesta segunda-feira (7), não participará da reunião de coordenação
política com a presidente. Estará em São Paulo, onde vai se encontrar
novamente com o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP), em um evento do
Grupo Lide.
Os dois já estiveram juntos no sábado (5),
na casa de um amigo comum. Nos bastidores, líderes tucanos admitem que
não poderão "se furtar" a apoiar um eventual governo Temer, caso a
presidente Dilma Rousseff seja afastada do cargo.
Na noite deste domingo (6), Temer se reuniu com integrantes do PC do B em São Paulo.