O
bolero de Lindomar Castilho
Conhecido como o rei do bolero na década de 70, Lindomar Castilho retoma carreira depois de cumprir doze anos de prisão por assassinar a mulher
Conhecido como o rei do bolero na década de 70, Lindomar Castilho retoma carreira depois de cumprir doze anos de prisão por assassinar a mulher
Nem os boleros mais tristes teriam desfecho mais dramático.
A história que envolveu os cantores Lindomar Castilho
e Eliane de Grammont acabou em tragédia, abrindo uma
ferida que ainda está longe de cicatrizar. O goiano
Lindomar e a paulista Eliane se casaram no dia 10 de
março de 1979, dois anos depois de se conhecerem no
corredores da antiga gravadora RCA, em São Paulo. O
cantor, na época, já era conhecido como o rei do bolero
enquanto ela ainda ensaiava os primeiros passos de sua
carreira. O casal teve uma filha, Liliane de Grammont,
e se separou exatamente um ano depois da data do casamento.
“Antes de casar, os dois decidiram que ela não cantaria
mais para se dedicar ao lar”, conta Helena de Grammont,
50 anos, irmã de Eliane e repórter do Fantástico.
Depois
da separação, a cantora voltou a fazer shows. Na madrugada
de 30 de março de 1981, ela cantava no Café Belle Époque,
em São Paulo, acompanhada pelo violão de seu novo namorado,
Carlos Randall, primo de Lindomar. Enquanto cantava
os versos “Agora era fatal que o faz de conta terminasse
assim”, da canção “João e Maria”, de Chico Buarque,
levou cinco tiros pelas costas. O autor do crime era
seu ex-marido.
Depois
de cumprir doze anos de pena – seis deles em regime
semi- aberto – Lindomar Castilho ganhou liberdade em
1996 e tenta agora retomar a carreira, na esteira do
sucesso de Reginaldo Rossi, outro cantor romântico que
estourou nos anos 60 e voltou a ser notícia recentemente.
O cantor está lançando Lindomar Castilho ao Vivo,
o primeiro CD por uma grande gravadora desde o cumprimento
da pena. “Minha voz não é a mesma, mas continua boa”,
opina. Desde que se encontra em liberdade, Lindomar
mora em Goiânia e evita ir a São Paulo. “Eu carrego
um sentimento de culpa enorme”, diz o cantor. Arrependimento,
no entanto, é uma palavra que ele prefere não pronunciar.
“Não é arrependimento. A tragédia aconteceu, independente
do meu querer ou não querer”, diz ele, enxugando as
lágrimas e tentando mudar de assunto. “Agora estou procurando
ocupar minha cabeça, trabalhando dia e noite nesse disco.”
Por
ironia do destino, Lindomar saiu de Goiás para começar
a carreira em São Paulo, em 1961, a convite de Paulo
de Grammont, tio de Eliane e diretor artístico da Organização
Vítor Costa, grupo de comunicação que detinha a concessão
do canal 5. Nessa época Eliane nem era nascida. “Embora
nossa família tivesse contato com Lindomar, nós só o
conhecemos de verdade através de Eliane”, lembra Helena.
“Conhecíamos o artista, não a pessoa”.
Ainda
em 1961, o cantor lançou seu primeiro álbum, com repertório
de Vicente Celestino. Daí em diante trilhou um caminho
de sucesso, chegando a vender, na década de 70, 500
mil cópias de um LP, marca mais do que satisfatória
para os padrões da época. Com o novo disco, Lindomar
pretende vender ainda mais. “Minha filha, Liliane, me
fez uma grande surpresa, me procurando um dia antes
do meu aniversário, em 1998”, lembra Lindomar. “Foi
ela quem me sugeriu que eu retomasse a carreira”.
Lindomar
não via a filha havia 17 anos. Liliane – que não retornou
o contato ao ser procurada por Gente – cresceu
em São Paulo, criada pelas tias Helena e Carmen de Grammont.
Ela tem hoje 20 anos, é dançarina e realizou um curso
de seis meses na escola de dança Julliard School, de
Nova York, financiado pelo pai.
Desde
aquele reencontro, Lindomar e Liliane voltaram a se
ver poucas vezes. “Eu não a procuro por respeito à família
atingida”, argumenta o cantor que não se sente à vontade
em ligar para a casa de Helena de Grammont, com quem
a filha mora atualmente. “Liliane foi atrás da história
de sua vida. Ela precisava conhecer o pai”, explica
Helena. “Nós nunca falamos mal do pai dela, aliás nós
quase nunca mencionamos sequer o nome dele.”
Depois
de ser procurado pela filha, Lindomar voltou a fazer
alguns shows. Logo veio o convite da gravadora Sony,
que foi aceito na hora. O repertório reúne grandes sucessos
de sua carreira, incluindo composições próprias e canções
de outros autores que ficaram famosas na sua interpretação.
Estão no disco, entre outras, “Eu Vou Rifar Meu Coração”
(que tem mais de 50 regravações mexicanas), “Você É
Doida Demais” (regravada por Leandro e Leonardo) e “Cabecinha
no Ombro”. Lindomar vive em Goiânia e namora a funcionária
pública, Vera Cruz de Castro Lobo, 49 anos, que o cantor
faz questão de manter distante da imprensa. “Ela não
tem nada a dizer sobre tudo que aconteceu”, afirma Lindomar.