A luz vermelha se acendeu para todo o
sistema hidrelétrico da Chesf. Com a iminência de chegada do volume
morto, no Lago da Barragem de Sobradinho, no Rio São Francisco,
responsável pela geração de 60% da energia hidrelétrica para toda a
Região Nordeste, a Agência Nacional de Águas (ANA) antecipou a reunião
que só deveria acontecer na próxima segunda-feira (30), para amanhã de
manhã, em Brasília, quando deverá decidir pela redução anda mais da
vazão do lago da Barragem de Sobradinho, antecipando a chegada do volume
morto.
Com a chegada do volume morto, que é
quando o volume útil de água acumulado no lago chega na cota zero, não
há como a água passar pelas turbinas e toda geração de energia a partir
de Sobradinho será interrompida. Com isso serão afetado não só o
complexo hidrelétrico de Paulo Afonso, onde existem seis hidrelétricas,
incluindo a de Itaparica, mas também o complexo hidrelétrico de Xingó, a
última e a maior usina hidrelétrica do Rio São Francisco.
A reunião, que contará com a participação
do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, Companhia Hidrelétrica
do São Francisco (Chesf), Instituto Brasileiro do meio Ambiente (Ibama)
e do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) deverá anunciar a
redução da vazão do lago, diminuindo o fluxo de água que sai pelos
vertedouros da barragem como forma de garantir um volume mínimo de
acumulo de água na barragem. Atualmente a barragem de Sobradinho mantém
uma vazão média de 930 metros cúbicos de água por segundo, e poderá
reduzir esse volume para 800 e até 400 m/³ por segundo.
Atualmente, a prioridade não é mais a
geração de energia elétrica e sim o abastecimento humano desta energia,
explicou o superintendente de Operação da Companhia da Chesf, João
Henrique Franklin. A situação é considerada crítica pela Chesf, que
estima ser esta a maior seca dos últimos 84 anos, tempo em que a
Companhia está instalada na região.
No domingo (22) o volume útil de água no
Lago de Sobradinho atingiu 1,8%, e mantendo a tendência, chegará hoje
com menos de 1,5%, atingindo o limite zero até o início da próxima
semana.
Reunião emergencial
Na reunião de amanhã, Brasília, será
avaliada a situação dos reservatórios e discutir o pedido formulado pelo
Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) de redução da vazão dos
atuais 900 m3/s para 800 m3/s. Para a Chesf, conforme explicou o
superintendente de Operações, João Henrique Franklin, mesmo não havendo
geração de energia a partir de Sobradinho, não haverá “apagão” no
Nordeste.
Isso porque existe uma reserva estratégica
de sete mil MegaWatts (MW) a partir da geração eólica e outros cinco
mil MW de usinas térmicas, capazes de suprir a demanda de 10 mil MW
proporcionada pela geração hidrelétrica. “O sistema elétrico tem outras
fontes de suprimentos, como usinas térmicas e eólicas que minimizam a
geração de natureza hidroelétrica, garantindo o atendimento para todos
os consumidores da região Nordeste”, explica Franklin.
Para a Chesf, mesmo com a situação
atingindo níveis alarmantes de gravidade, não há risco de racionamento
ou apagão. “Nossa preocupação agora não é com a energia elétrica, mas de
manter o máximo do reservatório por conta dos irrigantes, e
especialmente do abastecimento humano”, disse, acrescentando que os
parques de energias eólicas e térmicas hoje instaladas no Nordeste dão
essa garantia.
Mesmo com a perspectiva de atingir 0% do
volume útil nos próximos dias, com a geração de energia na usina de
Sobradinho suspensa, a a Chesf garante que mesmo com comportas fechadas e
sem a passagem de água, com as turbinas desligadas ,o curso natural do
rio seja mantido. Atualmente, das seis turbinas da barragem de
Sobradinho, apenas uma está funcionando com 50% da sua capacidade.
Com o volume morto, esta última também
será desligada e a água que sairá do lago Serpa suficiente apenas para
manter o leito natural do Rio São Francisco.
Chuvas frustraram expectativas
As chuvas que vêm caindo no Norte de Minas
Gerais frustraram as expectativas de uma mudança a curto e médio prazo
na situação de seca da Bacia do Rio São Francisco. O Lago de Sobradinho
dispõe de pouco mais de um bilhão de metros cúbicos de água acima do
volume morto.
Apesar das fortes chuvas em Minhas Gerais,
elas não atingiram a nascente do rio, o que impossibilitou a chegada de
água na região. Isso se verifica na Barragem de Três Marias, a primeira
do sistema hidrelétrico do São Francisco, localizada próxima às
nascentes, no Norte de Minas Gerais, que no domingo estava com apenas
8,8% do seu volume útil de água.
A Barragem de Sobradinho estava na última
sexta-feira na cota 381, com volume total disponível de 6,052 bilhões de
metros cúbicos de água, o equivalente a 17,74 % da sua capacidade total
de armazenamento. Desse volume, 5,45 bilhões de metros cúbicos são
considerados volume morto, suficiente para garantir o abastecimento, sem
a geração de energia, por um período de três meses, caso não chova.
Comitê em alerta
O presidente do Comitê da Bacia
Hidrográfica do São Francisco, Anivaldo Miranda, disse que apesar da
gravidade da situação, seria melhor e4sperar mais alguns dias para ver o
resultado das chuvas que caem no norte de Minas gerais, para só então
se decidir por uma redução da Vazão do lago de Sobradinhno. “Sabemos
que a situação é crítica, mas é preciso analisar os impactos que isso
vai acarretar na qualidade da água consumida pela população situada no
Baixo São Francisco”, disse.
Segundo os dados do Instituto Nacional de
Pesquisa Espacial (INPE), nos dois últimos anos choveu menos 80% do que
seria esperado e para o período até maio, as probabilidades indicam
chuvas 40% abaixo da média histórica. Miranda lembra que no início do
ano, quando a vazão do lago ainda estava em 1.300 m³ /s, uma mancha de
35 quilômetros se formou a partir da Barragem de Xingó em direção à foz.
“É preciso alterar a agenda de uso do rio, não mais como prioridade da
matriz energética, mas sim de multiuso para o abastecimento”, disse.