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    As trocas de e-mails do maior empreiteiro do país, Marcelo Bahia 
Odebrecht, o 'MBO', e seus executivos durante os governos de Luiz Inácio
 da Silva (2003/2010) revelam os contatos com o primeiro escalão do 
presidente petista nas tratativas de negócios internacionais da 
empreiteira e até mesmo em suas desavenças em outros países, como no 
Equador. Em setembro de 2008, em e-mail enviado pelo executivo Roberto 
Dias, da Odebrecht, ele cita conversa em Nova York com o então 
presidente, com o ministro das Relações Exteriores à época, Celso 
Amorim, o 'CA', e com o assessor especial da Presidência Marco Aurélio 
Garcia, o 'MAG'. O tema se referia aos problemas que a empreiteira 
enfrentava com o governo do Equador. Os dois membros do governo foram os
 interlocutores do assunto. "Após o jantar oferecido a Lula aqui em NYC 
conversei separadamente com Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia. Ambos 
tomaram a iniciativa de perguntar como estava o affaire Equador. Ficaram
 desapontados porque as informações que detinham indicavam o caminho da 
solução do problema", escreveu o executivo. Naquela oportunidade, Lula 
foi a Nova York para lançar o programa Brasil Sensacional, do Ministério
 do Turismo, cujo objetivo era aumentar o fluxo de turistas estrangeiros
 para o país. Os e-mails que denotam proximidade da maior empreiteira do
 País com o Itamaraty foram anexados dia 25 de setembro ao inquérito da 
Lava Jato. Eles foram resgatados pela Polícia Federal durante missão de 
buscas e apreensões realizadas na Erga Omnes, desdobramento da Lava Jato
 que pegou as duas maiores construtoras do País, Odebrecht e Andrade 
Gutierrez. A Erga Omnes foi deflagrada em 19 de junho. A análise das 
correspondências confirma a proximidade de Marcelo Bahia Odebrecht com o
 governo Lula, seus assessores e ministros. Em um dos e-mails, o então 
ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel 
Jorge, "afirma que esteve com os presidentes (do Brasil e da Namíbia) e 
que 'PR fez o lobby', provável referência ao Presidente Lula", registra 
análise prévia da PF. Miguel Jorge havia sido procurado para interceder 
em nome da Odebrecht em encontro do presidente Lula com o presidente da 
Namíbia, em visita ao Brasil em 2009. Na série de e-mails em que os 
executivos falam sobre as conversas com o ministro Celso Amorim e com o 
assessor da Presidência Marco Aurélio Garcia sobre o Equador, novamente é
 feita menção a tratativas do empreiteiro com o ministro Miguel 
Jorge. "Informei Mauro Couto que MBO pretende ligar para Miguel Jorge 
para o atualizar do andamento e de iminente desenlace", acrescenta 
Roberto Dias. "MAG e Celso acham difícil RC aceitar estas condições 
antes do plebiscito, e deveríamos ganhar mais tempo negociado para 
discutir estas questões após as eleições. Em se tratando de um mote de 
campanha eleitoral de especial interesse de RC. Eu argumentei que não 
via viabilidade na postergação sugerida". "RC" a que se referem na 
conversa é Rafael Correa, presidente do Equador. O 'affaire' foi a 
decisão do presidente equatoriano tomada naquele ano de expulsar do país
 a Odebrecht e confiscar seus bens. Ele militarizou obras que era 
tocadas pela empreiteira, que se recusava a pagar uma indenização por 
supostos danos que causaram a paralisação da hidrelétrica San Francisco,
 a segunda maior do país. A Odebrecht tocava no país, além de uma nova 
hidrelétrica, projetos de irrigação e um aeroporto em Tena. "Devido ao 
tumulto no final do jantar só foi possível cumprimentar o PR. Sei que 
MAG e CA estão mantendo o PR informado porque ambos fizeram referência a
 conversas recentes sobre Equador com o PR", conclui o executivo da 
empreiteira. Os e-mails foram copiados à secretária de Odebrecht, Darci 
Luz, que recebia a maior parte das correspondências do empreiteiro.