Estratégia
tucana de trabalhar pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff,
conforme sinaliza a nota divulgada neste sábado pelo senador Aécio Neves
(PSDB/MG), esbarra num inquérito policial citado pelo juiz Sergio Moro,
em seu despacho que resultou na prisão de empreiteiros e do ex-diretor
da Petrobras, Renato Duque. Trata-se do inquérito
5045104-39.2014.404.7000, que investiga uma comissão de R$ 4,6 milhões
paga pelo empresário Pedro Paulo Leoni Ramos ao doleiro Alberto Youssef,
na venda de pequenas centrais hidrelétricas à Light, controlada pela
Cemig-Centrais Elétricas de Minas Gerais. Em seu despacho, o juiz Moro
afirma: 'trata-se de negócio que, embora suspeito, não estaria
relacionado aos desvios na Petrobras'; a questão é: na Cemig pode?
Aécio Neves (PSDB-MG) sinalizou que trabalha pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (leia aqui).
Além disso, também neste sábado, manifestações realizadas em São Paulo e
em algumas capitais pediram, abertamente, a derrubada da presidente
reeleita há menos de um mês.
Aécio,
no entanto, pode encontrar um obstáculo pela frente, nessa movimentação
que, segundo o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, pretende
transformar a Operação Lava Jato numa espécie de 'terceiro turno' da
disputa presidencial.
A
'pedra no caminho' está citada na decisão judicial do próprio juiz
federal Sergio Moro, que embasou as prisões de diversos executivos de
empreiteiras nesta sexta-feira.
Trata-se do inquérito 5045104-39.2014.404.7000. Eis o que escreveu Sergio Moro a respeito:
A
Investminas Participações S/A confirmou, em petição de 21/10/2014
(evento 18) pagamento de 4.600.000,00 (R$ 4.317.100,00 líquidos) à MO
Consultoria. Alegou que remunerou conta indicada por Alberto Youssef em
decorrência de intermediação e serviços especializados deste na venda de
suas ações na Guanhães Energia S/A para a Light Energia S/A, com
intervenção a CEMIG Geração e Transmissão S/A. Juntou como prova os
contratos e notas fiscais pertinentes, todos com suspeita de terem sido
produzidos fraudulentamente. Alegou que Alberto Youssef seria
'empresário que, à época, detinha conhecimento do setor elétrico e
reconhecida expertise na área de assessoria comercial'. Aparentemente,
trata-se de negócio que, embora suspeito, não estaria relacionado aos
desvios na Petrobras.
Pelo
que se lê do texto de Sergio Moro, a Investminas, do empresário Pedro
Paulo Leoni Ramos, ex-ministro do governo Collor, pagou uma propina de
R$ 4,6 milhões à MO Consultoria, do doleiro Alberto Youssef, para vender
alguns ativos à Light, empresa do Rio de Janeiro, controlada pela
Cemig, estatal que é a joia da coroa mineira. Moro não tomou nenhuma
providência relacionada ao caso – ao menos, até agora – porque, segundo
ele próprio disse, não estaria relacionado aos desvios na Petrobras.
No
entanto, não há nenhum motivo para acreditar que todos os pagamentos de
empresas ligadas à Petrobras a Youssef são propina e que os outros,
relacionadas a outras empresas ou outros governos, de outros partidos,
como o próprio PSDB, são normais. Haveria, no mínimo, uma diferença de
tratamento.
Por
isso mesmo, é possível que o Congresso se movimente para que, em breve,
a CPI da Petrobras amplie seu escopo e atinja também outras estatais –
como a própria Cemig. Leia mais aqui.