Como ocorre às vésperas de toda eleição, o espírito de bazar baixou na
política brasileira. Os partidos negociam seu tempo de propaganda no
rádio e na tevê à luz do dia, na frente das crianças. Barganha-se de
tudo, com exceção da mãe, que não tem valor de mercado. Há cenas
constrangedoras, como a que aparece na foto acima. Um encontro de Dilma
Rousseff com Fernando Collor. Um rindo para o outro, em comunhão
fraternal de interesses.
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Com isso, o país vive sob uma eterna crise de compostura. As ruas são
incapazes de enxergar ética nos políticos. E os políticos são incapazes
de demonstrá-la.
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Dilma tem a aparência de uma mulher decente. Não apenas no sentido de
honesta, mas em todos os sentidos que a palavra engloba. Pelo que se
sabe dela, e até pelo seu jeitão, híspido como um cacto, a presidente
tem uma boa cara. Mas não há semblante austero que resista à
confraternização com personagens como Collor – escorraçado da
Presidência em 1992, nas pegadas de uma CPI que teve o ex-PT no papel de
torquemada.
ELA NÃO ESTÁ SÓ
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Dilma não está só nesse esforço para desmoralizar a política. Aécio
Neves inclui em sua coligação o Solidariedade do deputado Paulo Pereira
da Silva. Conhecido como Paulinho da Força Sindical, o personagem não
tem propriamente uma boa biografia.
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Eduardo Campos faz pose de representante da “nova política”. Mas
governou Pernambuco a bordo de uma aliança em que coube de tudo – do PP
de Severino Cavalcanti ao PR de Inocêncio Oliveira. Deve-se a
higienização do seu discurso a exigências de Marina Silva. Antes da
adesão da criadora da Rede, Campos negociava alianças com o mensaleiro
preso Roberto Jefferson (PTB) e com o ex-ministro Carlos Lupi (PDT),
afastado da pasta do Trabalho sob suspeita de corrupção.
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Enquanto forem tratadas como normais, as alianças partidárias
esdrúxulas continuarão fazendo do Brasil essa democracia em que a
corrupção deixou de ser rotina para virar uma emergência. Perdeu-se no
caminho algo essencial: o recato. Daí a sucessão de escândalos, um
engolfando o outro. Para que a coisa se resolva, algo de muito anormal
precisa suceder no Brasil.