quarta-feira, 8 de maio de 2013

PASTOR É PRESO ACUSADO DE ESTÚPRO



O pastor Marcos nega as acusações
Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

RIO — Pelo menos outras 20 mulheres podem ter sido vítimas de estupros cometidos pelo pastor Marcos Pereira da Silva, da Assembleia de Deus dos Últimos Dias. Marcos foi preso preventivamente na terça-feira à noite, inicialmente investigado por seis estupros. Mas, de acordo com o delegado Márcio Mendonça, da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod), nos 30 depoimentos colhidos durante um ano de investigações dos crimes supostamente cometidos pelo pastor, são citados ainda os nomes dessas 20 mulheres que também teriam sofrido abusos. O delegado já encaminhou para a Justiça cinco dos seis inquéritos que apuram os crimes, dos quais dois já resultaram em processos com mandados de prisão preventiva contra Marcos. O pastor foi encaminhado para um presídio no Complexo de Bangu.
— Ele se aproveitava de pessoas pobres que achavam estar precisando de acompanhamento espiritual. Ele fazia com que elas acreditassem que estavam possuídas e que só tendo relações sexuais com uma pessoa ‘santa’ ficariam curadas. Uma das vítimas foi abusada dos 14 aos 22 anos. A maioria dos fatos acontecia dentro de uma igreja em São João de Meriti — disse o delegado.
Segundo Mendonça, Marcos ainda é investigado por associação para o tráfico, lavagem de dinheiro e homicídio. Um apartamento no nome da igreja, avaliado em R$ 8 milhões na Avenida Atlântica, em Copacabana, na Zona Sul do Rio, também teria sido usado para realização de orgias comandadas por Marcos Pereira. A maior parte das vítimas dos encontros seria fiéis da igreja, chamadas até o local para a realização de cultos, em que Marcos Pereira, com ações violentas, obrigava as mulheres a fazerem sexo com ele e com outros homens da igreja. Também haveria sexo de mulheres com mulheres e homens com homens.
— Temos a informação de que aconteciam orgias com o pastor praticando sexo com pessoas do mesmo sexo, assim como mulheres com mulheres. Menores também seriam vítimas — afirmou.
Na manhã desta quarta-feira, o pastor foi transferido da Dcod, no bairro do Andaraí, na Zona Norte do Rio, às 8h40m. O pastor foi para o Instituto Médio-Legal (IML), onde fez exame de corpo de delito, e, de lá, seguiu para a penitenciária Bangu 2, no Complexo de Gericinó. Na saída da Dcod, o pastor recebeu mensagens de um grupo de fiéis que passaram a noite fazendo uma vigília em frente à delegacia. “Pastor, estamos do seu lado”, disse uma fiel. O pastor não quis comentar a prisão.
Ele foi preso com dois mandados de prisão preventiva na Rodovia Presidente Dutra, em São João de Meriti, Baixada Fluminense. Agentes do Dcod realizaram a prisão quando o pastor estava em seu carro, um Passat branco, indo para o seu apartamento, na Avenida Atlântica, em Copacabana. A investigação da participação de Marcos em envolvimento com tráfico de drogas, associação para o tráfico e lavagem de dinheiro foi baseada em denúncias do coordenador do Afroreggae, José Júnior. Os mandados foram decretados pelos juízes Richard Fairclough, da 1ª Vara Criminal de São João de Meriti, e Ana Helena Mota Lima, da 2ª Vara Criminal da mesma comarca, na última quinta-feira.
Das seis vítimas, três teriam sido atacadas quando eram menores de idade. Os crimes foram denunciados na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de São João de Meriti. Em um dos seis casos de estupro, a vítima seria a sua própria ex-mulher, Ana Madureira da Silva, que também revelou ter sofrido abuso sexual. Os dois ficaram casados até 1998.
Um dos homicídios pelo qual o pastor está sendo acusado seria de uma jovem que descobriu as orgias e teria tentado fazer denúncias. De acordo com o delegado da da Dcod, um sobrinho de Marcos Pereira também está envolvido no assassinato.
Seguido por fiéis
Na sede da delegacia, o pastor Marcos Pereira não quis falar com a imprensa. Porém, atendendo ao seu chamado, cerca de 30 dos seus seguidores foram até o local, além de seis advogados. Entre os fiéis, estava o ex-cantor de pagode Waguinho, que é missionário da Assembleia de Deus dos Últimos Dias há nove anos. Ao sair da delegacia, Waguinho — que disputou a prefeitura de Nova Iguaçu, nas eleições do ano passado — fez críticas à ação da polícia e às denúncias de José Júnior.
— Ficamos surpresos com a forma em que foi feita a prisão contra uma pessoa que comparece toda vez que é convocada para explicar essas acusações. Foi uma ação, em via pública. São acusações antigas que não há provas. Porém, todos nós aqui sabemos que existe uma guerra pública que foi declarada há cerca de dois anos, pelo José Júnior. O Afroreggae faz as suas ações e gasta milhões. O pastor Marcos Pereira faz o seu trabalho com o amor, sem receber nenhum dinheiro por isso. Quero ver o José Júnior explicar isso — disse Waguinho, defendendo Marcos Pereira. — Todos que convivem com o pastor sabem que ele é uma pessoa que só faz o bem. O trabalho dele já tirou oito mil pessoas das drogas. Na história, várias pessoas que fizeram o bem já sofreram esse tipo de injustiça. Quem é do bem conhece quem é do bem.