Foto: Ricardo Stuckert
Enquanto torcem para que o Supremo Tribunal Federal (STF) conceda
um habeas corpus em favor de Luiz Inácio Lula da Silva, petistas
próximos ao ex-presidente discutem o que fazer caso o líder máximo do
partido vá para a prisão. Os petistas calculam que, se consumada, a
prisão de Lula deve ocorrer em março. O debate ainda não foi colocado
formalmente para deliberação das instâncias partidárias, mas um grupo
restrito formado por dirigentes, parlamentares, ex-ministros e líderes
de movimentos sociais tem conversado sobre quais ações podem ser postas
em prática enquanto Lula estiver na prisão. As discussões vão desde a
estratégia eleitoral em caso de impedimento de Lula até mobilizações de
rua, campanhas na internet e o comportamento do próprio ex-presidente na
cadeia. Segundo um petista próximo de Lula, o ex-presidente não vai
reconhecer "moralmente" a condenação a 12 anos e 1 mês de prisão imposta
pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), não deve ser um
preso dócil e "vai dar trabalho". Alguns petistas chegam a falar em
greve de fome, mas auxiliares mais próximos do ex-presidente garantem
que Lula nunca cogitou a ideia. Ele ficou seis dias sem comer quando foi
preso em 1980, durante a ditadura militar, por liderar uma paralisação
de 41 dias dos metalúrgicos do ABC. Mas em 2005, quando era presidente,
Lula criticou essa forma de protesto quando o bispo Luiz Flávio Cappio
fez uma greve de fome contra a transposição do Rio São Francisco. "Greve
de fome é judiar do próprio corpo", disse Lula, à época. Algumas
iniciativas têm sido tomadas à revelia do ex-presidente. No dia 1.º de
fevereiro a Frente Brasil Popular (FBP), formada por cerca de 200
movimentos sociais ligados ao PT e ao PCdoB, aprovou proposta do
Movimento dos Sem Terra (MST) para a realização de um acampamento na
frente da casa do petista, em São Bernardo, a partir desta
segunda-feira, 18. O objetivo seria constranger a Polícia Federal ou
até, no limite, impedir o cumprimento de um eventual mandado de prisão.
Lula não foi consultado e integrantes da direção da Frente acham pouco
provável que a proposta seja colocada em prática. Alguns dirigentes
petistas sugeriram a realização de uma vigília na frente da prisão em
Curitiba para onde o ex-presidente pode ser levado. Um grupo de
parlamentares do partido propõe organizar caravanas diárias para visitar
Lula e, assim, propagar as mensagens do petista para fora da cadeia e
manter seu nome em evidência. Ainda não há decisão se, em caso de
prisão, ele vai se entregar ou esperar a chegada da PF em casa. Os
petistas acham difícil a manutenção de grandes mobilizações
populares. Segundo auxiliares e pessoas que estiveram com Lula nos
últimos dias, ele está tranquilo e mantém o bom humor. O ex-presidente
encara a possibilidade de ser preso como um ato político que tem como
objetivo tentar tirá-lo da disputa presidencial. Ele tem dito que em
três anos de investigações, os responsáveis pela Lava Jato não
conseguiram desmoralizá-lo perante o eleitorado e seus aliados
políticos. Assessores de Lula comparam a situação com a do senador Aécio
Neves (PSDB-MG), flagrado em conversa na qual pede dinheiro ao
empresário Joesley Batista, da JBS, e marginalizado por muitos de seus
próprios companheiros de partido. "Lula não é o Geddel (Vieira Lima) nem
o (deputado) João Rodrigues (PSD-SC, preso no dia 8 deste mês)",
afirmou o deputado Carlos Zarattini (PT-SP). "Estamos vivendo uma
situação em que de um lado o prestígio de Lula e do PT aumentam
sensivelmente e do doutro a perseguição judicial não cessa",
completou. Enquanto isso, os petistas se mobilizam para tentar convencer
o plenário do STF a aceitar o habeas corpus de Lula. O ex-ministro do
Supremo Sepúlveda Pertence, recém incorporado à defesa do petista, tem
circulado pelos gabinetes da Corte. O périplo começou no mesmo dia (6 de
fevereiro) em que sua inclusão foi anunciada, quando houve a posse do
ministro Luiz Fux na presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O
ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência Gilberto Carvalho, o
advogado e ex-deputado Sigmaringa Seixas, o deputado Vicente Cândido
(PT-SP) e o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha também foram
escalados.