Geddel para Neto: antes, aliado; hoje, preterido | Foto: Max Haack/ Divulgação
O prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), está enfrentado
um dilema na montagem da chapa majoritária de sua possível candidatura
ao governo do Estado nas eleições deste ano. Importante no grupo por
fatores como tempo de televisão e estrutura partidária, o PMDB está
dando dor de cabeça ao democrata nas articulações engendradas para
fechar os nomes que marcharão com ele no pleito. De acordo com
informações obtidas pelo Bahia Notícias, aliados começam a pressionar
Neto para que o inquilino do Palácio Thomé de Souza não tenha a sigla na
chapa por causa da situação dos irmãos Vieira Lima, cujas imagens estão
muito atreladas ao partido. Por outro lado, o próprio prefeito se
preocupa com a possibilidade de ter na chapa a agremiação, comandada por
muito tempo no estado pelo homem do bunker de R$ 51 milhões, o
ex-ministro Geddel Vieira Lima. Com a certeza de que a ligação entre
Neto, Geddel e o PMDB será explorada pelo grupo do governador Rui Costa,
o prefeito de Salvador quer encontrar um jeito de não deixar a má fama
do ex-ministro resvalar na sua imagem. “Ele não vai querer passar a
eleição explicando porque está ao lado do partido de Geddel e Lúcio”,
comentou um deputado do grupo de Neto, que preferiu não se identificar.
E, segundo o apurado pela reportagem, as movimentações para resolver
essa quebra-cabeça já começaram. O objetivo principal é acabar com
qualquer resquício de vínculo dos Vieira Lima com o partido. Neste
sentido, segundo algumas fontes ouvidas pelo BN, as articulações
passariam por retirar o comando da sigla do deputado estadual Pedro
Tavares, cria política dos irmãos. As negociações teriam até a
participação do próprio Neto, que estaria com interesse de entregar a
legenda a alguém de sua confiança, como o vice-prefeito Bruno Reis. No
entanto, outros nomes consultados pela reportagem dizem justamente o
contrário. Ninguém dentro do PMDB atualmente estaria disposto a assumir o
partido enquanto a agremiação ainda abrigar Lúcio, denunciado pelo
Ministério Público Federal no caso do bunker, e também candidato a
reeleição para deputado federal. Fora do partido, Neto também não está
disposto a escorregar nesta casca de banana. Há, ainda, no ninho
peemedebista, uma divisão sobre se o comando do partido realmente
deveria ser entregue a outra pessoa. Segundo avaliação de um
peemedebista ouvido pela reportagem, o impasse só será resolvido quando o
Conselho de Ética julgar o processo contra Lúcio por quebra de decoro
parlamentar. Em Brasília, acredita-se que este deve ser o primeiro caso
sobre o qual o colegiado vai se debruçar com o fim do recesso. E, por
lá, cresceu o sentimento de que, caso o processo chegue ao plenário da
Câmara, o deputado fatalmente terá o mandato cassado. Com isso, ele não
poderia concorrer à reeleição. Além disso, perderia o foro privilegiado,
agravando ainda mais sua situação na Justiça. Caso este cenário se
concretize, estaria aí a oportunidade perfeita para retirar o PMDB, de
vez, das mãos dos Vieira Lima. No entanto, se o Conselho de Ética
resolver manter o mandato do deputado, o partido precisará encontrar
outra forma de solucionar a equação. O certo é que, por enquanto, apesar
de negarem publicamente, a situação na sigla não é tão tranquila.
Alguns deputados manifestam preocupação com o cenário e há até quem
esteja pensando em abandonar o barco, caso de Luciano Simões Filho, que,
apesar negar estar negociando qualquer desfiliação, também não descarta
ir para outro ninho político. Mesmo longe dos seus dias de glória, os
irmãos parecem ter se tornado fantasmas na vida de ACM Neto.