A presidente cassada Dilma Rousseff comparou as discussões sobre um
possível plano B à pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva aos pedidos pela sua renúncia, quando ainda estava no poder.
Segundo Dilma, nos dois casos, o que está por trás é uma tentativa de
legitimar o “golpe” que, conforme ela, foi iniciado com o impeachment e
ainda está em andamento. “Essa discussão sobre o plano B é igual a
discussão sobre 'renuncie, presidente'. Pediam, 'renuncie, presidente, é
um gesto de grandeza'. Gesto de grandeza nada. É a tentativa de
mascarar o golpe”, disse Dilma, no início da tarde de hoje.
A presidente cassada participou do seminário "Diálogos Internacionais
Sobre a Democracia", promovido pelas fundações Perseu Abramo (PT) e
Maurício Garbois (PCdoB), em Porto Alegre. O evento, que contou com a
participação de dezenas de líderes sindicais, de movimentos sociais e
partidos de esquerda da América Latina, faz parte das mobilizações em
defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que será julgado
quarta-feira, 24, pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4),
na capital gaúcha.
Conforme Dilma, a possibilidade de Lula ser impedido pela Justiça de
participar das eleições deste ano é um reflexo do que chamou de “derrota
do golpe” iniciado com o impeachment. Segundo ela, a partir do momento
em que a (1) Operação Lava Jato se voltou contra lideranças de partidos
que apoiaram o impeachment, como PSDB e MDB “inviabilizando todas elas”,
(2) as forças que assumiram o poder não conseguem construir um nome
para enfrentar Lula nas urnas e que o (3) ex-presidente recuperou a
imagem e passou a liderar as pesquisas de intenção de voto, os
adversários do PT passaram a apostar na ilegibilidade do petista.
“Este processo constrói a derrota do golpe e explica também o
acirramento da disposição para atingir o presidente Lula”, disse ela.
Dilma repetiu o discurso de boa parte dos petistas segundo o qual um
presidente eleito sem a participação de Lula nas eleições assumiria o
cargo sem a legitimidade necessária para conduzir o País rumo à saída da
crise.
De acordo com a presidente cassada, a crise econômica iniciada em
2008 não é “culpa nossa” e a questão fiscal que levou ao impeachment foi
construída para justificar sua saída do poder.
“Se criminalizou a política anticíclica que nós fizemos chamando de
gastança”, disse Dilma, que classificou a PEC do Teto aprovada pelo
governo Michel Temer de “austericídio” e é alvo de críticas públicas do
próprio Lula sobre a má condução da política econômica.