(Defesa de Temer sonega ao Supremo oportunidade de desnudar um "golpe")
Josias de Souza
A defesa que o advogado de Michel Temer entregou à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara é, na verdade, uma antidefesa.
Um paradoxo envenena a peça. Eduardo Carnelós, o novo defensor do
presidente, sustenta que a segunda denúncia da Procuradoria não passa de
uma “tentativa de golpe” para derrubar seu cliente. A coisa estaria
fadada ao insucesso, pois a acusação, além de “inepta”, é produto de uma
“farsa” urdida pelo ex-procurador-geral Rodrigo Janot em
conluio com os “malfeitores” da JBS. Ora, uma denúncia assim, tão
clamorosamente insustentável, seria arquivada pelo Supremo Tribunal
Federal sem titubeios.
Por
que, então, congelar as acusações de organização criminosa e obstrução à
justiça no necrotério da Câmara? Qual é o sentido de adiar o encontro
de Temer com o processo penal para depois do término do mandato
presidencial? Por que deixar para depois uma desmoralização que poderia
ser imposta a Janot imediatamente? Por que sonegar ao Supremo a
oportunidade de desnudar um 'golpe'? É incompreensível que, podendo
restaurar sua biografia, Temer prefira se autoemporcalhar, tornando-se o
primeiro presidente sub judice da história, um ponto de interrogação com caneta e Diário Oficial à disposição para comprar a cumplicidade dos deputados.
De
duas, uma: ou Temer é um tolo ou é um mentiroso. Nas duas hipóteses,
não é o presidente que o Brasil merece. De resto, entre as incontáveis
perguntas que a defesa deixou no ar, uma é especialmente intrigante: com
que propósito Rodrigo Janot tramaria um “golpe”? O antecessor de Raquel
Dodge revelou-se um arqueiro meio trapalhão. Mas não há vestígio de
acerto que ele tenha firmado com o DEM para fazer de Rodrigo Maia o
próximo presidente da República.