O Globo
Pesquisas
encomendadas pelo Palácio do Planalto apontaram que Michel Temer era
“amigo e cúmplice” do empresário Joesley Batista, dono da JBS, e que a
esperança popular no presidente havia acabado. Os levantamentos são de
junho, entre a divulgação da conversa no porão do Palácio do Jaburu e a
primeira denúncia criminal contra Temer — mas entraram em um banco de
dados público da Presidência na sexta-feira.
“Os
participantes entendem que o presidente era amigo e cúmplice do
empresário”, afirma pesquisa interna do Instituto Análise, encomendada
pelo Planalto. Os entrevistados atacaram o fato de Temer “saber das
ações ilícitas do empresário da JBS e não prendê-lo”. Além de Joesley
não ter sido preso à época, os participantes consideraram grave que
Temer tenha se mantido como presidente.
A
Presidência pagou por duas pesquisas, uma em São Paulo e outra em
Brasília, Rio, Porto Alegre e Salvador. Ambas foram feitas em junho e
miraram homens e mulheres acima de 18 anos, com renda A, B e C.
O
levantamento ainda revela que a divulgação do diálogo entre Temer e
Joesley no Jaburu foi determinante para o fim da expectativa positiva
com o presidente: erros do peemedebista teriam desapontado o público da
amostra.
“Após
essa gravação, a esperança atribuída ao representante maior do Governo
Federal exauriu-se, pois entendem que o presidente da República errou.
Os participantes demonstram decepção e indignação diante do fato”, que
“incomodou bastante os participantes”, diz o documento. Nesse contexto,
toda a classe política perdeu crédito: entrevistados opinaram que há
corrupção “em todos os níveis da política”.
Michel
Temer tampouco foi bem-sucedido na tentativa de resposta que deu ao
caso no pronunciamento de 18 de maio — aquele em que o presidente disse
repetidamente que não renunciaria. As entrevistas auferiram que o
discurso foi “altamente reprovado”, na medida em que ficou “distante da
realidade do dia a dia dos participantes”, que externaram reações “muito
ruins”.
O
pronunciamento de Temer, em tom irritado, aconteceu um dia após o GLOBO
revelar a gravação de Joesley e fotos do ex-assessor especial do
peemedebista, Rodrigo Rocha Loures, flagrado recebendo R$ 500 mil da JBS
em uma mala. Rocha Loures havia sido indicado a Joesley Batista por
Michel Temer.
SAÍDA DE TEMER PREOCUPA
A despeito de críticas duras ao presidente, os entrevistados afirmaram que o Brasil pioraria com a saída de Temer.
“A
hipótese de que o presidente não chegue até o final de seu mandato em
razão de uma renúncia ou impeachment é motivo de preocupação. Por mais
que desaprovem o governo e estejam decepcionados com as recentes
denúncias, a maioria dos participantes entende que uma interrupção do
atual governo poderia agravar ainda mais a situação e lançar o país num
cenário de ausência de comando com consequências imprevisíveis”,
continua o diagnóstico.
Na
conclusão, as pesquisas recomendaram ao Palácio do Planalto que
transmitisse mensagens de “esperança de uma vida melhor”. Os próprios
entrevistados tiveram “muita dificuldade” em apontar saídas para a crise
generalizada, em um ambiente de “muita incerteza e ceticismo”. “Se
antes parecia que o país poderia ter uma recuperação gradual da
economia, agora prevalece o medo que a crise se prolongue e a situação
piore ainda mais”, afirma o levantamento.
A
partir de novembro, a equipe de comunicação de Temer vai tentar
transformar a imagem do presidente — que está com 3% de aprovação, menor
índice desde a redemocratização. A ideia é divulgar uma compilação de
feitos do governo na área econômica, bem como medidas planejadas para
2018. Concebida pelo marqueteiro do presidente, Elsinho Mouco, a
iniciativa foi batizada por ele de Plano Temer.