terça-feira, 3 de outubro de 2017

Pesquisa do próprio governo: Temer e Wesley cúmplices



O Globo
Pesquisas encomendadas pelo Palácio do Planalto apontaram que Michel Temer era “amigo e cúmplice” do empresário Joesley Batista, dono da JBS, e que a esperança popular no presidente havia acabado. Os levantamentos são de junho, entre a divulgação da conversa no porão do Palácio do Jaburu e a primeira denúncia criminal contra Temer — mas entraram em um banco de dados público da Presidência na sexta-feira.
 “Os participantes entendem que o presidente era amigo e cúmplice do empresário”, afirma pesquisa interna do Instituto Análise, encomendada pelo Planalto. Os entrevistados atacaram o fato de Temer “saber das ações ilícitas do empresário da JBS e não prendê-lo”. Além de Joesley não ter sido preso à época, os participantes consideraram grave que Temer tenha se mantido como presidente.
A Presidência pagou por duas pesquisas, uma em São Paulo e outra em Brasília, Rio, Porto Alegre e Salvador. Ambas foram feitas em junho e miraram homens e mulheres acima de 18 anos, com renda A, B e C.
O levantamento ainda revela que a divulgação do diálogo entre Temer e Joesley no Jaburu foi determinante para o fim da expectativa positiva com o presidente: erros do peemedebista teriam desapontado o público da amostra.
“Após essa gravação, a esperança atribuída ao representante maior do Governo Federal exauriu-se, pois entendem que o presidente da República errou. Os participantes demonstram decepção e indignação diante do fato”, que “incomodou bastante os participantes”, diz o documento. Nesse contexto, toda a classe política perdeu crédito: entrevistados opinaram que há corrupção “em todos os níveis da política”.
Michel Temer tampouco foi bem-sucedido na tentativa de resposta que deu ao caso no pronunciamento de 18 de maio — aquele em que o presidente disse repetidamente que não renunciaria. As entrevistas auferiram que o discurso foi “altamente reprovado”, na medida em que ficou “distante da realidade do dia a dia dos participantes”, que externaram reações “muito ruins”.
O pronunciamento de Temer, em tom irritado, aconteceu um dia após o GLOBO revelar a gravação de Joesley e fotos do ex-assessor especial do peemedebista, Rodrigo Rocha Loures, flagrado recebendo R$ 500 mil da JBS em uma mala. Rocha Loures havia sido indicado a Joesley Batista por Michel Temer.
SAÍDA DE TEMER PREOCUPA
A despeito de críticas duras ao presidente, os entrevistados afirmaram que o Brasil pioraria com a saída de Temer.
“A hipótese de que o presidente não chegue até o final de seu mandato em razão de uma renúncia ou impeachment é motivo de preocupação. Por mais que desaprovem o governo e estejam decepcionados com as recentes denúncias, a maioria dos participantes entende que uma interrupção do atual governo poderia agravar ainda mais a situação e lançar o país num cenário de ausência de comando com consequências imprevisíveis”, continua o diagnóstico.
Na conclusão, as pesquisas recomendaram ao Palácio do Planalto que transmitisse mensagens de “esperança de uma vida melhor”. Os próprios entrevistados tiveram “muita dificuldade” em apontar saídas para a crise generalizada, em um ambiente de “muita incerteza e ceticismo”. “Se antes parecia que o país poderia ter uma recuperação gradual da economia, agora prevalece o medo que a crise se prolongue e a situação piore ainda mais”, afirma o levantamento.
A partir de novembro, a equipe de comunicação de Temer vai tentar transformar a imagem do presidente — que está com 3% de aprovação, menor índice desde a redemocratização. A ideia é divulgar uma compilação de feitos do governo na área econômica, bem como medidas planejadas para 2018. Concebida pelo marqueteiro do presidente, Elsinho Mouco, a iniciativa foi batizada por ele de Plano Temer.