Presidenciável
se consolida na vice-liderança das pesquisas, mas suas ideias
extremistas, seu discurso agressivo e seu isolamento são um sinal de
alerta
VEJA – Ana Clara Costa
O deputado Jair Bolsonaro quer
ser presidente do Brasil. O deputado Jair Bolsonaro tem chances reais
de vir a ser presidente do Brasil. Há alguns anos, essas duas frases
juntas fariam a maior parte dos brasileiros rir às escâncaras. Hoje,
provocam reações diversas, que vão da celebração ao pavor, mas não
incluem mais as antigas gargalhadas. A mais recente pesquisa do
instituto Datafolha mostra
que o deputado se consolidou em segundo lugar na corrida eleitoral para
a Presidência da República, com 17% das intenções de voto no primeiro
turno, atrás apenas do líder de sempre, o ex-presidente Lula, com 35%.
Os números significam que, se o petista desistir ou for impedido de
concorrer por motivos penais, hipótese cada vez mais provável, Bolsonaro
é hoje o candidato com maior chance de assumir a liderança. É uma
novidade e tanto — e talvez a maior ameaça que o Brasil já enfrentou no
atual ciclo democrático.
Debulhando-se
a pesquisa, constata-se que Bolsonaro tem um desempenho especialmente
favorável entre os jovens, na faixa de 24 a 32 anos, do sexo masculino,
com renda acima de cinco salários mínimos, que residem em cidades com
mais de 50 000 habitantes das regiões Sudeste e Nordeste. Isso mostra
que o grosso do seu público não viveu sob a ditadura militar e pertence a
um segmento da classe média. Não é o pedaço mais expressivo do
eleitorado brasileiro, mas já reúne entre 20 milhões e 30 milhões de
pessoas, dependendo dos nomes que aparecem na cédula.
Com
esse apoio, Bolsonaro colocou definitivamente a direita radical no jogo
eleitoral, num país que, há poucos anos, tinha vergonha de expor ideais
dessa tendência. “Eu sempre fui de direita, mesmo quando isso era
crime”, orgulha-se.
Apesar
do entusiasmo em torno de sua candidatura, Bolsonaro vive em isolamento
político. Não tem ligação sólida com nenhum partido. Em quase três
décadas como deputado, conseguiu aprovar apenas dois projetos e virou um
saltimbanco de siglas. Pertenceu ao PDC, PP, PPR, PPB, PTB, PFL, PSC e,
agora, está prestes a aderir ao PEN, cujo nome está mudando para
Patriotas.
No
PSC, sua legenda anterior, quem lhe abriu as portas foi o pastor
Everaldo Dias Pereira, aquele que a Odebrecht acusou de cobrar 6 milhões
de reais para dar apoio ao candidato presidencial Aécio Neves, do PSDB.
O
pastor, aliás, tornou-se tão íntimo de Bolsonaro que o convenceu a
cruzar o Oceano Atlântico pela primeira vez, no ano passado, para
visitar Israel e ser batizado no Rio Jordão, junto com seus quatro
filhos mais velhos.