sábado, 13 de maio de 2017

"Minha garantia era o Lula", diz delatora


"Eu confiava muito nele, que ele ia resolver", completou Mônica Moura
ÉPOCA

Ao relatar que tomou "cano" da Andrade Gutierrez e de Nicolás Maduro, atual presidente da Venezuela, na campanha que reelegeu Hugo Chávez em 2012, a empresária Mônica Moura foi questionada como fazia as cobranças de valores acertados por meio de caixa dois sem contrato formal.

A delatora disse que sua garantia era o ex-presidente Lula e que o marido, o marqueteiro João Santana, chegou a pressioná-lo para receber valores nunca pagos. Lula pediu calma. "A minha garantia era Lula. Eu confiava muito em Lula, que ele ia resolver. E no nosso próprio trabalho, que foi crescendo de uma maneira que...".
De forma mais específica, a investigadora pergunta como exatamente Mônica falava com o executivo da Andrade Gutierrez, que arcou com uma parte da campanha de Chávez por caixa dois, na Venezuela. "Já cheguei a ameaçar: gente, se vocês não me pagarem eu vou ter que conversar no Brasil, quem me chamou para cá foi o presidente Lula. Ele não era presidente na época, mas sempre chamei Lula assim. Vou ter que conversar com ele porque não dá".
A procuradora questiona, então, se Lula chegou a ser acionado sobre o assunto. "O João cobrou várias vezes. Chegava para ele e conversava. Já tinha acabado a campanha. Chávez foi eleito. Nós estávamos sendo incensados pela mídia venezuelana como os melhores não-sei-o-quê. E o dinheiro não saía [...] O João, uma vez, conversou com Zé Dirceu, que saía fora, dizia que não tinha nada a ver com financiamento, "só fiz a intermediação". João conversava com Lula: "Não, se acalme, vou conversar com o presidente Chávez, isso vai ser resolvido".
Seis meses depois, Chávez morreu, deixando um "cano de mais ou menos 15 milhões de dólares", afirmou Mônica. Maduro, que mandava buscá-la de carro blindado para entregar "malas de dinheiro", ainda conforme a empresária, tornou-se presidente e nem retornava mais as ligações dela. A Andrade Gutierrez só teria pago US$ 2 milhões de uma dívida apontada como US$ 5 milhões, numa primeira declaração de Mônica, e depois US$ 4 milhões.
"Sucesso por um lado e um fracasso financeiro retumbante", lamenta a empresária, ao falar da campanha que reelegeu Chávez com vantagem ampla.
Ontem, o relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, quebrou o sigilo da delação do marqueteiro João Santana, da mulher dele, Mônica Moura, e do assessor do casal, André Santana. Nesta sexta-feira, foram divulgados os vídeos dos depoimentos.