![]() |
Folha de São Paulo
Após se reunir, hoje, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o
senador Lindbergh Farias (PT-RJ) se recusou a abrir mão de disputar a
presidência nacional do partido. A decisão surpreendeu Lula. Na
conversa, o ex-presidente apelou para que Lindbergh desistisse da
candidatura em favor da senadora Gleisi Hoffmann (PR).
Segundo relatos, Lindbergh disse que já estava em campanha e que não
poderia abandonar seus apoiadores, os integrantes do movimento "Muda
PT". Para aliados, o senador fluminense disse que ficaria desmoralizado.
O ex-presidente insistiu na tese de que o senador teria concordado com
uma aliança com Gleisi caso ela fosse lançada pela CNB (Construindo um
Novo Brasil), maior corrente petista. Lula disse a petistas que
Lindbergh tinha se comprometido com esse acordo numa conversa ocorrida
no Instituto Lula.
Em conversas, Lindbergh repete, porém, que nunca se comprometeu a
desistir em apoio a Gleisi. Diz apenas que se calou ao ouvir a proposta
de Lula. Essa foi, no entanto, a premissa para que a CNB desistisse do
lançamento da candidatura do ex-ministro Alexandre Padilha.
Numa reunião com Lula, ocorrida na noite de ontem, os líderes do PT
nas bancadas na Assembleia Legislativa de SP e na Câmara informaram que
Padilha era o candidato escolhido pelos deputados. Eles afirmaram ainda
que Padilha recebeu o apoio da tendência numa consulta feita em todos os
Estados do país. Na reunião, que consumiu mais de três horas, os
participantes expuseram suas queixas sobre Gleisi. Mas, segundo
participantes, Lula garantiu que Lindbergh desistiria se Gleisi fosse a
candidata. A CNB foi convencida.
No fim da noite, divulgou nota afirmando que a opção consistia num
esforço pela unidade partidária. Na manhã desta terça, Lindbergh tomou
um café com os dirigentes da Democracia Socialista, que o apoia. Disse
que não poderia desistir. Para ele, "o lançamento da candidatura de
Gleisi é sua primeira vitória. Será uma campanha em alto nível", disse
Joaquim Joriano, um dos dirigentes da Democracia Socialista com quem o
senador tomou café.
CONSTRANGIMENTO – A persistência de Lindbergh causou
constrangimento à CNB. Os integrantes da corrente dizem que ela foi
imposta após os dirigentes da tendência fazerem um levantamento do qual
Padilha saiu vencedor numa disputa contra o tesoureiro do partido,
Márcio Macedo. A escolha contraria particularmente os deputados,
queixosos do comportamento de Gleisi à frente da Casa Civil do Governo
Dilma. Dizem que nunca eram recebidos pela então ministra.
Os integrantes da CNB temem que ela seja "uma segunda Dilma", pela
dificuldade de acesso. Mantida a candidatura de Lindbergh, o PT terá
dois candidatos citados na Operação Lava Jato. Gleisi é ré sob acusação
de recebimento de propina para pagamento de gastos de sua campanha ao
Senado. O inquérito sobre Lindbergh foi arquivado. Os dois negam
envolvimento em irregularidades.