A gerente da joalheira Antônio Bernardo, Vera Lúcia Guerra, declarou
à Polícia Federal que o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) era
seu "cliente pessoal" e afirmou que o peemedebista comprou joias em
dinheiro vivo desde "quando era deputado e senador". Vera relatou que a
última compra do peemedebista ocorreu há cerca de dois anos - na
ocasião, adquiriu "um colar de ouro avaliado em cerca de R$ 10 mil pago
em dinheiro". Cabral foi deputado estadual de 1991 a 2003. Entre 1995 e
2003 ocupou a presidência da Assembleia Legislativa do Rio. Ele se
elegeu senador em 2003 e ocupou o cargo até 2006, quando deixou a vaga
para concorrer ao governo do Rio. Por dois mandatos, foi o chefe do
Executivo fluminense (2007-2014). "Quando era deputado e senador Sérgio
Cabral procurou pessoalmente a declarante para comprar joias em dinheiro
vivo; também os filhos de Sérgio Cabral chegaram a procurar a
declarante para comprar joias com pagamento em espécie, sendo que nesses
episódios o dinheiro era portado pelos próprios filhos de Sérgio
Cabral", afirmou Vera Guerra em seu depoimento - prestado em 17 de
novembro, quando foi deflagrada a Operação Calicute, desdobramento da
Lava Jato que prendeu Cabral. Vera declarou conhecer Carlos Miranda,
apontado pela investigação como o "homem da mala" do ex-governador.
"Neste episódio Sérgio Cabral escolheu a joia com a ajuda da declarante,
sendo que o pagamento foi feito posteriormente em dinheiro por um homem
desconhecido da declarante, sendo certo que não foi Carlos Miranda quem
pagou este colar", disse. A gerente deu detalhes sobre a atuação de
Carlos Miranda. "Em datas comemorativas, aniversários, Natal, etc, era
comum Carlos Miranda procurar a declarante por telefone ou pessoalmente
em busca de joias, sempre femininas, para presente; que Carlos Miranda é
cliente antigo da loja, lá comprando há cerca de dez a doze anos, não
sabendo precisar quantas vezes vendeu joias ao mesmo; que o pagamento
era feito quase sempre em dinheiro, sempre em moeda nacional",
relatou. Vera disse não se recordar "exatamente se e quantas vezes
Carlos Miranda comprou joias com cartão". Segundo a gerente, "o valor
das joias em espécie girava em torno de R$ 1 mil a R$ 10 mil, podendo
ter vendido algo acima de R$ 10 mil. Ela disse, porém, que não se
recordava precisamente dos valores. De acordo com a gerente da joalheria
Antônio Bernardo, não cabia a ela responder pela parte de pagamento,
"razão pela qual não sabe dizer se houve ou não pagamento sem nota
fiscal". Vera Guerra explicou que os certificados das joias não têm o
"nome do cliente para quem foram vendidas, traz apenas o código, o nome,
a data e o prazo de troca, não constando material de fabricação, valor,
peso e outras características do objeto".