O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), atendeu
ao pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e autorizou a
Polícia Federal a analisar vídeos do transporte de documentos da CPI
dos Correios para o arquivo do Senado, em maio deste ano. Na decisão,
que faz parte do inquérito contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG),
Mendes determinou a quebra do sigilo de dados do Banco Rural e pediu que
o Banco Central envie documentos que possam ajudar a explicar o
episódio. A investigação apura se o tucano participou de uma suposta
maquiagem nos dados sobre o Banco Rural enviados ao colegiado em
2005. No mesmo dia em que o inquérito sobre Aécio foi aberto, em 3 de
maio, servidores do Senado transportaram documentos de uma sala da CPI
para a Coordenação de Arquivo do Senado. Uma semana depois, o Senado
divulgou nota informando que o transporte dos documentos partiu de um
pedido do gabinete do tucano. Aécio alegou que estava colhendo elementos
para apresentar a sua defesa no Supremo. Foram transportadas 46 das
quase 1.000 caixas que compõem o acervo da CPI. O objetivo dos
investigadores da PF é analisar os vídeos para identificar o servidor
responsável por levar as caixas e o itinerário pelo qual passou o
carrinho com documentos da CPI. Mendes também mandou que sejam
comparados os números das caixas transportadas com os que foram pedidos
no ofício encaminhado por Aécio pedindo acesso aos documentos, além de
que o Banco Rural apresente cópias de todos os documentos encaminhados a
CPI. A decisão do ministro do STF é do dia 4 de outubro, mas só foi
publicada nesta segunda-feira (17). A denúncia contra Aécio é fruto do
acordo de delação premiada do senador cassado Delcídio Amaral, que foi o
presidente da CPI dos Correios, ativa entre 2005 e 2006. Segundo
Delcídio, Aécio tentou, por intermédio de outras pessoas, convencê-lo a
prorrogar o prazo de entrega de documentos do Rural à CPI como pretexto
de que, se não fosse assim, o banco não teria tempo de atender às ordens
da comissão. Na decisão desta segunda, Gilmar também formalizou a
situação de Delcídio como investigado. Em seu depoimento, Delcídio disse
que um dos interlocutores de Aécio teria sido o hoje prefeito do Rio de
Janeiro, Eduardo Paes, que na época era deputado federal pelo PSDB,
também um dos alvos do inquérito, junto com Clésio de Andrade. "Que os
dados atingiriam em cheio a pessoas de Aécio Neves e Clésio Andrade,
governador e vice-governador de Minas Gerais", disse Delcídio em sua
delação. Além deles, Delcídio citou ainda o deputado Carlos Sampaio,
afirmando que ele sabia da tentativa de maquiar os dados, porém ele não é
investigado no STF.