As primeiras sete medidas anunciadas, ontem, pelo presidente interino
Michel Temer (PMDB) dividiram opiniões, mas foram encaradas de forma
positiva, sinal de que o Governo vai cortar na própria carne para a
sociedade não pagar uma conta salgada. As reações do mercado foram as
mais diferentes. Para Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova
Futura Corretora, as medidas não significam muita coisa do ponto de
vista do ajuste fiscal.
“A primeira [proposta de devolução de R$ 100 bilhões pelo BNDES] não
tem efeito nenhum sobre o déficit primário. A relação entre a dívida
bruta do governo e o PIB cai, pode melhorar a contabilidade da dívida
pública, mas isso não afeta o resultado do déficit primário”, diz ele.
Já Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, diz que as medidas
são importantes e seguem a programação do Governo no sentido da
austeridade.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que algumas medidas
adicionais ainda serão adotadas e que estarão na PEC enviada ao
Congresso para limitar o crescimento das despesas apenas na mesma
variação da inflação. "Em minha opinião, faltou indicar exatamente
alguma medida efetiva de corte de despesa e também não se falou em
aumento de receita via imposto. Ou seja, fica em aberto dois pontos
extremamente importantes para efetivamente se obter o equilíbrio fiscal
em 2017, visto que para 2016 o Governo já trabalha com o rombo de R$
170,5 bilhões, que ainda deve ser aprovado pelo Congresso”, assinalou
Agostini.
Para Simão Silber, professor de economia da USP, não se deve esperar
nenhuma medida capaz de evitar um déficit primário acima de 2% do PIB
este ano com a dívida do Governo aumentando para 75% do PIB. “O jogo de
2016 já foi jogado, com queda do PIB próximo de 4%. As medidas
anunciadas são consistentes com a redução do crescimento da relação
dívida do governo/PIB e do déficit primário esperado para 2017 e 2018”,
observou.
Os R$ 100 bilhões de recursos do Tesouro emprestados para o BNDES,
segundo ele, podem ser utilizados para abater a dívida do Tesouro. “A
fixação do teto da despesa primária de um exercício com base na inflação
do ano anterior pode ser um elemento importante para reduzir o déficit
primário a partir do ano que vem. Mas ainda falta muita coisa:
desvinculação de recursos da União, aumento de contribuições, redução de
subsídios e desonerações fiscais”, acrescentou.
RECADO– Incomodado com os protestos em frente à sua
casa em São Paulo, o presidente em exercício, Michel Temer, mandou um
recado indireto para os manifestantes. Em seu discurso durante o anúncio
de medidas econômicas no Palácio do Planalto. “Fui secretário de
Segurança Pública em São Paulo e tratava com bandidos”, afirmou. Foi a
forma de comunicar que sabe conduzir um governo e que, se necessário,
voltará atrás sempre que identificar um erro. Mas também foi uma reação
ao que considera uma intimidação da própria família. De forma reservada,
ele vem manifestando contrariedade com os protestos diante da
residência.