Dossiê entregue pelo Ministério Público suíço à Procuradoria-Geral da República do Brasil revela que o dinheiro que saiu de uma conta secreta na Suíça atribuída
à jornalista Claudia Cruz, mulher do presidente da Câmara, Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), pagou despesas com dois cartões de crédito e até uma
famosa academia de tênis na Flórida (EUA). Segundo os investigadores, o
dinheiro é fruto de propina da Petrobras, mais especificamente de um
contrato de US$ 34,5 milhões da estatal relativo à compra de um campo de
exploração em Benin, na África.
Segundo
dados do banco Julius Baer, os recursos foram movimentados na conta com
nome fantasia KOEK, que está em nome da jornalista, entre 2008 e 2015, e
tem uma das filhas do deputado como dependente. Essa conta tinha 146,3
mil francos suíços e foi bloqueada pelo Ministério Público da Suíça em
17 de abril de 2015, um mês após a Polícia Federal deflagrar a Operação Lava Jato, que investiga o esquema de corrupção na Petrobras.
Em
um dos cartões de crédito foram gastos US$ 525 mil de janeiro de 2013 a
abril de 2015. O outro registrou despesas de US$ 316,5 mil em quatro
anos.
Os
familiares de Cunha gastaram ainda US$ 59,7 mil com a IMG Academies,
academia de tênis do treinador Nick Bollettieri na Flórida –uma das mais
prestigiadas do mundo. Ele é considerado um "descobridor de estrelas" e
já treinou campeões mundiais como Andre Agassi, Boris Becker e as irmãs
Venus e Serena Williams. Além das aulas na Flórida, Bollettieri dá
várias clínicas de tênis pelo mundo, inclusive no Brasil.
Há
ainda pagamento de US$ 8.400 à Malvern College, uma escola na
Inglaterra, e repasse de US$ 119,7 mil para a Fundacion Esade Banco,
instituição financeira espanhola, além de transferência de US$ 52,4 mil a
uma pessoa que não teria ligação com os desvios.
Além
das transações financeiras de Claudia Cruz, os documentos revelam que
três empresas offshore são ligadas a Cunha: Orion SP, Netherton e
Triumph SP, que foram abertas entre maio de 2007 e setembro de 2008,
sendo uma delas em Singapura.
De
acordo com o material, as quatro contas somam entradas no valor de R$
31,2 milhões e saídas de R$ 15,8 milhões, em valores convertidos para
cotação desta sexta (9). Os depósitos e retiradas foram feitos em dólar,
francos suíços e euros.
As
investigações na Suíça apontaram um repasse direto de 1,3 milhão de
francos suíços (R$ 5,1 milhão) de uma offshore do empresário João
Augusto Henriques para a Orion SP, de Cunha, entre 30 de maio e 23 de
junho de 2011. Os depósitos foram feitos três meses após a Petrobras
fechar o negócio envolvendo o campo de petróleo na costa oeste da
África.
OUTRO LADO
Procurada
no início da noite desta sexta, a assessoria de Cunha disse que ele
reafirma os termos da nota que soltou sobre as supostas contas na Suíça.
No texto, o peemedebista diz "desconhece o teor dos fatos veiculados" e
que só os comentará após ter "acesso ao conteúdo real do que vem sendo
divulgado".
O advogado de Cunha, o ex-procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza, não atendeu à ligação da reportagem.
Em entrevista à Folha publicada
nesta sexta, Cunha afirma ser vítima de "execração" devido a uma
divulgação de dados seletiva, "vazada de forma criminosa"