domingo, 2 de agosto de 2015

Pagaram e tiveram R$ 4,8 bi de contratos


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Folha de S.Paulo – Júlia Borba e Rubens Valente
Valor é a soma dos negócios feitos desde 2009 entre empreiteiras suspeitas e Eletronuclear
As empreiteiras que pagaram R$ 4,8 milhões ao presidente licenciado da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva, fecharam contratos de ao menos R$ 4,8 bilhões com a empresa de energia atômica entre 2009 e 2015. Responsável pelas usinas nucleares e pela construção de Angra 3, a Eletronuclear, controlada pela Eletrobras, responde por 3% da geração de energia elétrica no país. Ela foi o foco da Operação Lava Jato em sua 16ª fase, deflagrada na terça (28). Othon, vice-almirante da reserva da Marinha, foi um dos presos.
Segundo a força-tarefa, o militar usou sua empresa Aratec para receber propina de interessados em negócios com a Eletronuclear. Levantamento da Folha mostra que a Andrade Gutierrez fechou R$ 1,55 bilhão em contratos e aditivos de 2009 a 2015. O maior, assinado por Othon, é de R$ 1,2 bilhão. No mesmo período, segundo a investigação, a empreiteira transferiu R$ 3,7 milhões à Aratec –que, segundo a Receita, tinha só um empregado. Os pagamentos ocorreram por meio das empresas CG, JNobre e Deutschebras.
Dois consórcios, o Una 3 e o Angra 3, foram criados pelas empreiteiras para colocar a unidade de pé até 2018, com contratos de R$ 1,7 bilhão e R$ 1,3 bilhão, respectivamente. Participantes desses consórcios também fizeram pagamentos à firma do almirante por serviços identificados nas notas como "assessoria", "consultoria" e "tradução".
A Engevix fechou seis contratos com a Eletronuclear no valor total de R$ 136 milhões. No mesmo período, pagou R$ 765 mil à Aratec por meio da Link Projetos, além de R$ 45,9 mil em pagamento direto.
Os procuradores da Lava Jato começaram a investigar a Eletronuclear após o ex-presidente da Camargo Corrêa Dalton Avancini passar a colaborar com as investigações.
Segundo o delator, empreiteiras organizaram um cartel para dividir contratos da Eletronuclear. Avancini também disse que "havia um acerto do pagamento de propina a funcionários" da estatal, sendo que Othon era um deles.