Presidente começa a colher as consequências da crônica falta de diálogo com parlamentares aliados, que ameaçam derrubar propostas vitais para o Planalto
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DOR DE CABEÇA – Com Eduardo Cunha à frente, a Câmara impôs sucessivas derrotas ao governo em duas semanas,
sem dar prioridade à articulação
política ao longo de todo o primeiro mandato, a presidente Dilma
Rousseff agora colhe os resultados da falta de diálogo com os
parlamentares: sua segunda temporada à frente do Palácio do Planalto não
completou dois meses e o Congresso Nacional já se tornou um campo
minado. A nova Legislatura foi oficialmente aberta há duas semanas,
tempo suficiente para que deputados e senadores, inclusive os que
desembarcaram em Brasília como aliados, articulassem a rejeição a
projetos caros ao governo. Mais: como apoio de siglas governistas, a
criação de uma nova CPI da Petrobras avança.
A insatisfação de parlamentares com o
estilo Dilma de governar não é novidade. Mas passou a ser
uma preocupação real para os articuladores políticos do Planalto depois
que deputados do PT engrossaram o movimento para alterar projetos
prioritários enviados pelo governo ao Congresso Nacional. Agora, até
mesmo a base aliada fala abertamente em descolar-se do Planalto. O caso
mais latente é o do pacote que endurece as leis trabalhistas.
“Existe o apoio permanente da nossa
bancada ao governo e ao nosso projeto. Isso não quer dizer que, em
determinadas questões, o PT não tenha uma posição diferenciada e que não
se possa buscar uma mudança. Vemos isso como uma melhoria aos
compromissos históricos que nós representamos”, afirma o deputado Paulo
Pimenta (PT-RS).
Para piorar, Dilma tem perdido
sustentação em outro importante pilar: as centrais sindicais. Na última
semana, sindicalistas estiveram com os presidentes do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para pedir
que o Congresso altere as medidas anunciadas pelo governo na tentativa
de enxugar gastos.
Diante de uma encruzilhada que pode ameaçar sua governabilidade, Dilma decidiu sair do isolamento
e, enfim, negociar, um verbo com o qual não tem nenhuma familiaridade.
Na semana passada, reuniu-se com centrais sindicais, formou uma tropa de
choque de dez partidos na Câmara e ainda escalou um núcleo de cinco
petistas para enquadrar sua base. A presidente já chegou a recorrer a
medidas do tipo em outros momentos de aperto. Nunca, contudo, enfrentou
uma crise política como a que atravessa agora. E, a julgar
pelas bombas já armadas pelo Congresso, o futuro não parece fácil.
Fonte: Veja