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Surgem
a cada dia novas denúncias sobre a lambança na Petrobras. A corrupção
no Brasil vem dos tempos de Pedro Álvares Cabral, mas foi a partir do
primeiro governo do Lula que deu-se a metamorfose: em vez de instrumento
maior do desenvolvimento e da soberania nacional, a empresa
transformou-se na caverna do Ali Babá. Seus planos, programas e
objetivos viram-se encaminhados para gerar dinheiro sujo, com a
participação de partidos políticos, parlamentares, empreiteiros e altos
funcionários. Não dá para aceitar que o então presidente da República
estivesse alheio ao que se passava. Senão beneficiário, ao menos
conivente ele foi. Sabia do execrável uso da estatal para sustentar e
ampliar a influência do PT e outros partidos de sua base de apoio, da
mesma forma como não ignorava as práticas do mensalão. Não apenas
calou-se, sem tomar providências, mas assim estimulou a roubalheira.
O
mesmo aconteceu com Dilma Rousseff, antes mesmo de assumir a
presidência, como ministra de Minas e Energia, chefe da Casa Civil e
líder do Conselho de Administração da Petrobrás. Como não sabia, se
participava, como o Lula, da nomeação de companheiros para a diretoria
da empresa? Não terá se beneficiado pessoalmente, mas permitiu para
outros os benefícios espúrios através de obras superfaturadas, aditivos
contratuais e malandragens propostas pelas empreiteiras, igualmente
envolvidas nessa que parece a mãe de todas as tramóias.
Fica
a pergunta, agora que se avolumam as denúncias e aproxima-se o
julgamento dos bandidos, em número cada vez maior, se tanto o Lula
quanto a Dilma permanecerão incólumes na devassa. O jurista Ives Gandra
já traçou o roteiro da culpa de ambos, mesmo sem personalizá-los. Nessa
hora do “salve-se quem puder” torna-se evidente a responsabilidade do
antigo e da atual presidente. Não haverá como poupá-los, apesar do
constrangimento e dos efeitos catastróficos de sua inclusão nos
processos agora prestes a entrar em sua fase definitiva.
As
comemorações dos 35 anos de fundação do PT realizaram-se ontem sob a
égide de um falso martírio. Os companheiros apresentaram-se como
perseguidos, abnegados e sacrificados. Claro que essa categoria também
existe, mas está sendo levada de roldão na corrente de sujeira agora à
vista de todos.
Em
suma, não é nada confortável a situação do Lula e de Dilma, ainda que
pareça impossível a concretização do impeachment de uma e da condenação
do outro. São muitos os canais que interligam ambos às instituições
vigentes e aos grupos do poder social. Mesmo assim, a conclusão é de
estar-se encerrando um ciclo antes tido como brilhante e agora exposto à
execração pública. Como o Brasil é maior do que seus vícios e defeitos,
consola-nos a certeza de que acabará passando esse amargo período de
descrédito em pessoas, idéias e propósitos, um dia tidos como nosso
futuro. Lula e Dilma podem escapar das punições, mas da História, jamais
escaparão.
(Carlos Chagas)