Apontado como 
provável ministro da Fazenda de um governo que recomeça por baixo, 
Joaquim Levy (ou qualquer outro que Dilma Rousseff venha a escolher), 
enfrentará dois desafios inusitados. Primeiro, o novo ministro terá de 
provar que é ministro de verdade, não mais um figurante. Depois, terá de
 restaurar a confiança do país no seu potencial econômico. Algo que 
exige a administração de uma herança ruinosa sem culpar a administração 
anterior pelo flagelo.
Numa palavra, o 
substituto de Guido Mantega precisa fazer mágica. Como ministra da 
Fazenda de si mesma, Dilma empurrou para dentro do seu segundo mandato 
um quadro de borrasca: rombo nas contas públicas, estagnação econômica, 
inflação no teto, juros em alta, retração dos investimentos e déficit em
 conta corrente… Reeleita com um discurso de fábula e sem exibir um 
plano de governo, a presidente passou a fazer declarações sem muito 
nexo.
Abertas as urnas, 
Dilma reconheceu que o governo teria de cortar despesas. Mas disse que 
faria isso sem mexer no nível de emprego e na renda. No último final de 
semana, Dilma repetiu que passará alguns gastos na lâmina. Mas realçou 
que os cortes não afetarão a demanda. O diabo é que ainda não foi 
inventada uma maneira de podar despesas sem afetar a demanda e, com ela,
 o emprego e a renda.
Assim, para começo
 de conversa, o novo ministro precisa começar a falar sério. Ou, por 
outra, terá de agir seriamente. A restauração da confiança depende da 
capacidade de Levy de tomar providências que, na prática, desdigam a 
chefa. Ou ele faz isso ou o país se arrisca a tomar das agências de 
classificação de risco de crédito uma nota vermelha. Que levará à perda 
do grau de investimento que o Brasil conquistara em 2008, sob Lula. 
Nessa hipótese, os investidores preferirão ainda mais os juros aos 
riscos.
Resumindo: o novo 
ministro da Fazenda será prisioneiro de um paradoxo. Para atenuar a 
encrenca que Dilma legou a si mesma, terá de implementar as medidas 
impopulares que, ao longo de toda a campanha, a presidente acusara o 
adversário Aécio Neves de tramar. Além do ajuste fiscal, precisa colocar
 em pé uma política econômica com começo, meio e fim. Como se fosse 
pouco, terá de tirar cartolas de dentro do coelho contra um pano de 
fundo carbonizado pelo petrolão, com o Legislativo em chamas e o 
Executivo sob questionamentos.
(Do Blog do Josias)